Quimioterapia e Tratamentos Sistêmicos no Câncer de Mama

Medicamentos para tratamento sistêmico do câncer de mama: comprimidos, cápsulas e embalagens farmacêuticas em destaque.

Talvez você já tenha ouvido falar em quimioterapia, hormonioterapia, mas o que exatamente elas significam? E como elas atuam em conjunto com outros tratamentos, como a cirurgia e a radioterapia?

Entender suas opções de tratamento sistêmico é um passo poderoso na sua jornada. Quando compreendemos o “porquê” e o “como” de cada etapa, nos sentimos mais seguras, confiantes e participativas nas decisões sobre nossa saúde. O câncer de mama pode trazer muitas dúvidas e receios, mas a informação clara e acessível é uma ferramenta valiosa para enfrentarmos esse desafio juntas.

Neste artigo, vamos desmistificar os tratamentos sistêmicos, explicando de forma simples como funcionam, quando são indicados e qual o papel deles no combate ao câncer de mama. Meu objetivo é que, ao final desta leitura, você se sinta mais informada e fortalecida. Vamos lá?

O Que São Tratamentos Sistêmicos e Por Que São Importantes?

Diferente dos tratamentos locais, como a cirurgia (que remove o tumor) e a radioterapia (que trata a área da mama e/ou axila com radiação), os tratamentos sistêmicos agem no corpo todo. Eles utilizam medicamentos que circulam pela corrente sanguínea para alcançar e destruir células cancerígenas que possam ter se espalhado para além da mama, mesmo que ainda não sejam detectáveis por exames.

Fluxograma do tratamento sistêmico para câncer de mama: medicamentos circulam pelo sangue e atingem células cancerígenas em todo o corpo.

Essa abordagem “sistêmica” é crucial por várias razões:

1 – Prevenir Recidivas

Ajuda a eliminar células cancerígenas microscópicas que possam ter migrado da mama e permanecido no corpo após a cirurgia, reduzindo o risco de o câncer voltar no futuro (recidiva).

2 – Tratar Metástases

É a principal forma de tratamento quando o câncer já se espalhou para outras partes do corpo (metástases), ajudando a controlar a doença e melhorar a qualidade de vida.

3 – Reduzir o Tumor Antes da Cirurgia (Neoadjuvância):

Em alguns casos, tratamentos sistêmicos são administrados antes da cirurgia para diminuir o tamanho do tumor, tornando a cirurgia mais fácil ou possibilitando uma cirurgia conservadora (que preserva parte da mama).

4 – Complementar a Cirurgia (Adjuvância)

Frequentemente, são usados após a cirurgia para garantir que quaisquer células cancerígenas remanescentes sejam eliminadas.

Fluxograma da importância do tratamento sistêmico: redução de tumores, prevenção de recidivas e controle de metástases.

Principais Tipos de Tratamentos Sistêmicos no Câncer de Mama

Existem diferentes modalidades de tratamento sistêmico, e a escolha depende de vários fatores, como o tipo específico do câncer de mama, o estágio da doença, as características moleculares do tumor e a saúde geral da paciente. 

Fluxograma com fatores para escolha do tratamento sistêmico do câncer de mama: tipo de câncer, características moleculares, estágio da doença e saúde do paciente.

Vamos conhecer as principais:

1 – Quimioterapia

A quimioterapia utiliza medicamentos potentes para destruir células que se dividem rapidamente, uma característica comum das células cancerígenas.

  • Objetivo Principal

Matar as células do câncer, reduzir o tamanho do tumor antes da cirurgia (neoadjuvante) ou eliminar células restantes após a cirurgia (adjuvante), além de tratar metástases.

  • Como Funciona

Os medicamentos quimioterápicos circulam pelo sangue e atacam células em processo de divisão rápida. Isso inclui as células do câncer, mas também pode afetar algumas células saudáveis do corpo que também se dividem rapidamente (como as do cabelo, da medula óssea e do revestimento do sistema digestivo).

Fluxograma do ciclo da quimioterapia: medicamentos entram na corrente sanguínea e atacam células cancerígenas e saudáveis.

 

  • Aplicação

Geralmente administrada em ciclos, com períodos de tratamento seguidos por períodos de descanso para permitir que o corpo se recupere. Pode ser intravenosa (na veia) ou oral (comprimidos).

Paciente com câncer de mama recebendo quimioterapia acompanhada pelo marido em ambiente hospitalar.
  • Efeitos Colaterais Comuns

Sabemos que os efeitos colaterais podem ser desafiadores. Os mais comuns incluem queda de cabelo, náuseas, vômitos, fadiga, alterações no paladar e aumento do risco de infecções (devido à diminuição das células de defesa). É fundamental lembrar que existem hoje muitas formas eficazes de prevenir e controlar esses efeitos. Converse abertamente com sua equipe médica!

  • Acompanhamento Médico

É essencial um monitoramento cuidadoso para ajustar doses, manejar os efeitos colaterais e garantir o bem-estar da paciente durante o tratamento.

Dica prática: Durante a quimioterapia, mantenha uma boa hidratação, alimentação balanceada e, quando possível, pratique atividades físicas leves que ajudam a reduzir a fadiga e melhorar o bem-estar.

2 – Terapia Hormonal (Hormonioterapia)

Este tratamento é uma pedra angular para tumores que expressam receptores para os hormônios femininos, ou seja, são receptores de estrogênio positivos (RE+) e/ou receptores de progesterona positivos (RP+). Felizmente, a maioria dos cânceres de mama, cerca de 70%, se encaixa nessa categoria, o que nos oferece uma ferramenta terapêutica muito eficaz.

  • Objetivo Principal

A lógica é simples e poderosa: impedir que os hormônios femininos, principalmente o estrogênio, “alimentem” as células cancerígenas, bloqueando assim o estímulo para que elas cresçam e se multipliquem.

Fluxograma da hormonioterapia: bloqueio do estrogênio para reduzir crescimento de tumores RE+/RP+.

 

  • Como Funciona

Existem diferentes estratégias para alcançar esse objetivo, e a escolha dependerá de fatores como seu status menopausal (se você já passou ou não pela menopausa) e as especificidades do seu caso:

    • Bloqueadores Seletivos do Receptor de Estrogênio (SERMs): O exemplo mais conhecido é o Tamoxifeno. Ele age como uma “chave falsa” que se encaixa no receptor de estrogênio da célula cancerígena, impedindo que o estrogênio natural se ligue e envie sinais de crescimento. O Tamoxifeno é eficaz e pode ser utilizado tanto por mulheres na pré-menopausa quanto na pós-menopausa.
Mulher com câncer de mama segurando cartela de comprimidos de hormonioterapia (ex: Tamoxifeno).
  •  
    • Inibidores de Aromatase (IAs): Para as mulheres que já estão na pós-menopausa, os ovários deixaram de ser a principal fonte de estrogênio. Nesse caso, o estrogênio é produzido em outros tecidos, como a gordura corporal, através de uma enzima chamada aromatase. Os IAs atuam bloqueando justamente essa enzima, reduzindo drasticamente os níveis de estrogênio no corpo. Exemplos comuns de IAs incluem o anastrozol, o letrozol e o exemestano. Geralmente são administrados em comprimidos diários.
 
    • Degradadores Seletivos do Receptor de Estrogênio (SERDs): Uma outra classe importante, frequentemente utilizada em casos de câncer de mama avançado ou metastático (especialmente se o tumor se tornou resistente a outras terapias hormonais), é representada pelo Fulvestranto. Este medicamento tem um mecanismo de ação duplo: ele não só bloqueia o receptor de estrogênio, mas também o degrada, ou seja, leva à sua destruição dentro da célula. O Fulvestranto é administrado através de injeções intramusculares, geralmente mensais.
  • Indicação

Como vimos, a indicação principal é para pacientes com tumores RE+ e/ou RP+. A escolha específica entre Tamoxifeno, IAs ou Fulvestranto dependerá do estágio da doença (inicial ou avançado), status menopausal, tratamentos prévios e perfil de risco/benefício individual.

  • Duração

No cenário adjuvante (após a cirurgia, para prevenir recidivas), o tratamento com Tamoxifeno ou IAs é geralmente de longo prazo, recomendado por 5 a 10 anos. A adesão rigorosa ao tratamento é absolutamente fundamental para garantir sua máxima eficácia protetora. No caso de doença avançada, o tratamento hormonal pode ser mantido enquanto estiver controlando a doença.

  • Efeitos Colaterais Comuns

Como esses medicamentos mexem com os hormônios, alguns efeitos colaterais podem se assemelhar aos sintomas da menopausa. Os mais comuns incluem ondas de calor (fogachos), secura vaginal, alterações de humor e dores articulares. 

É importante estar ciente de que os IAs podem aumentar o risco de perda de massa óssea (osteopenia/osteoporose), sendo importante monitorar a saúde dos ossos. 

O Tamoxifeno, embora seguro para a maioria, tem um risco muito pequeno de aumentar a chance de trombose venosa ou câncer de endométrio (útero), o que também é monitorado. 

O Fulvestranto pode causar dor ou reação no local da injeção, além dos sintomas hormonais. 

Lembre-se: converse abertamente com seu médico sobre qualquer efeito colateral. Existem maneiras de manejá-los e melhorar sua qualidade de vida!

  • Acompanhamento Médico

O acompanhamento regular é crucial para monitorar a resposta ao tratamento, gerenciar eventuais efeitos adversos, avaliar a saúde óssea (especialmente com IAs) e garantir que você esteja recebendo o cuidado mais adequado.

Dica prática: Técnicas de relaxamento, atividade física regular e uma rotina de sono adequada podem ajudar a gerenciar os efeitos colaterais da hormonioterapia.

3 – Terapia Alvo

As terapias alvo são medicamentos mais “inteligentes” que atacam características específicas das células cancerígenas, como proteínas ou genes alterados, poupando a maioria das células saudáveis.

  • Objetivo Principal

Bloquear mecanismos específicos que as células do câncer usam para crescer e se espalhar.

  • Como Funciona

Identifica e ataca alvos moleculares presentes nas células tumorais. Um exemplo clássico no câncer de mama é o tratamento para tumores que superexpressam a proteína HER2 (HER2-positivo). Medicamentos como o Trastuzumabe e o Pertuzumabe se ligam a essa proteína, impedindo que ela envie sinais de crescimento para a célula. Outras terapias alvo miram outras mutações ou vias de crescimento celular.

Fluxograma da terapia-alvo: identificação de alvos moleculares (ex: HER2) e bloqueio de sinais de crescimento tumoral.
  • Indicação

Para tumores com características moleculares específicas (ex: HER2+, mutações em PIK3CA, BRCA). Testes genéticos no tumor são necessários para identificar esses alvos.

Terapia direcionada em laboratório: injeção de medicamento em célula cancerígena para tratamento inovador.
  • Aplicação

Podem ser usados sozinhos ou, mais frequentemente, em combinação com quimioterapia ou hormonioterapia.

  • Efeitos Colaterais

Variam muito dependendo do alvo e do medicamento. Podem incluir reações durante a infusão, diarreia, problemas de pele e, no caso de algumas terapias anti-HER2, efeitos sobre o coração (que são monitorados de perto).

  • Acompanhamento Médico

Essencial para monitorar a resposta ao tratamento e gerenciar possíveis efeitos adversos específicos de cada terapia.

4 – Imunoterapia

A imunoterapia é uma abordagem mais recente e revolucionária que utiliza o próprio sistema imunológico da paciente para combater o câncer.

  • Objetivo Principal

Estimular ou “destravar” o sistema imune para que ele possa reconhecer e atacar as células cancerígenas de forma eficaz.

Médico lutando contra células cancerígenas: metáfora do combate ao câncer de mama com terapias inovadoras.

 

  • Como Funciona

As células cancerígenas muitas vezes desenvolvem mecanismos para “se esconder” do sistema imunológico. A imunoterapia, através de medicamentos chamados inibidores de checkpoint imunológico (como o Atezolizumabe e o Pembrolizumabe), bloqueia esses mecanismos de camuflagem, permitindo que as células de defesa (linfócitos T) ataquem o tumor.

Fluxograma da imunoterapia: ativação de linfócitos T, reconhecimento de células cancerígenas e bloqueio de mecanismos de camuflagem.

 

  • Indicação

Atualmente, é mais utilizada em casos de câncer de mama triplo-negativo (que não expressa receptores hormonais nem HER2), especialmente em estágio avançado (metastático) ou como tratamento neoadjuvante em combinação com quimioterapia. Pesquisas continuam a expandir seu uso.

  • Efeitos Colaterais

Como a imunoterapia ativa o sistema imune, os efeitos colaterais podem ocorrer quando o sistema imune ataca também células normais do corpo. Podem incluir fadiga, erupções cutâneas, diarreia, alterações na tireoide e, mais raramente, inflamação de órgãos (colite, pneumonite, hepatite).

  • Acompanhamento Médico

Fundamental para identificar e manejar precocemente os efeitos colaterais relacionados ao sistema imune e avaliar a resposta ao tratamento.

A Importância da Personalização e da Abordagem Multidisciplinar

É crucial entender que não existe uma receita única para o tratamento do câncer de mama. Cada mulher e cada tumor são únicos. A escolha da combinação ideal de tratamentos sistêmicos (e locais) é altamente personalizada e baseada em:

1 – Estadiamento:

A extensão da doença (tamanho do tumor, acometimento de linfonodos, presença de metástases).

2 – Características do Tumor:

tipo histológico, o grau de agressividade, e principalmente o subtipo molecular (Luminal A, Luminal B, HER2-positivo, Triplo-Negativo), que informa sobre a presença de receptores hormonais e HER2.

3 – Testes Genômicos:

Em alguns casos, plataformas genômicas podem ajudar a avaliar o risco de recidiva e a necessidade de quimioterapia em tumores RE+.

4 – Saúde Geral da Paciente:

Idade, presença de outras condições médicas (comorbidades), status menopausal.

5 – Preferências da Paciente:

Seus valores, objetivos e preocupações são parte essencial da decisão terapêutica, em um processo de decisão compartilhada com a equipe médica.

Fluxograma do tratamento personalizado para câncer de mama: estádio, características do tumor, testes genômicos e saúde da paciente.

Além disso, o tratamento do câncer de mama é um trabalho de equipe! Uma abordagem multidisciplinar, envolvendo mastologista, oncologista clínico, radioterapeuta, patologista, radiologista, enfermeiros especializados, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas, garante um cuidado integral e coordenado, olhando para você como um todo.

Cuidando do Bem-Estar Durante o Tratamento

Enfrentar os tratamentos sistêmicos pode ser desafiador física e emocionalmente. Por isso, cuidar do seu bem-estar geral é parte fundamental do processo:

  • Manejo dos Efeitos Colaterais: Comunique qualquer sintoma à sua equipe. Existem muitas estratégias para aliviar náuseas, fadiga, dores, etc.
  • Nutrição Adequada: Uma boa alimentação pode ajudar a manter a força, a energia e a tolerância ao tratamento. Busque orientação nutricional.
  • Atividade Física: Quando liberada pelo seu médico, exercícios físicos podem combater a fadiga e melhorar o humor.
  • Saúde Mental e Emocional: Não hesite em buscar apoio psicológico, participar de grupos de apoio ou conversar com amigos e familiares. Cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo.

Conclusão: Informação é Poder, Cuidado é Amor

Os tratamentos sistêmicos são aliados poderosos na luta contra o câncer de mama. Seja quimioterapia, hormonioterapia, terapia alvo ou imunoterapia, cada um tem seu papel específico, e a ciência continua avançando para oferecer opções cada vez mais eficazes e personalizadas.

Lembre-se: você não está sozinha nessa jornada. Sua equipe médica está ao seu lado para oferecer o melhor cuidado possível, baseado nas mais recentes evidências científicas e, acima de tudo, respeitando suas necessidades e individualidade. A informação te capacita a participar ativamente do seu tratamento, a fazer perguntas e a tomar decisões conscientes.

Mãos de médico e paciente simbolizando cuidado e confiança no tratamento do câncer de mama.


O câncer de mama tem cura, especialmente quando diagnosticado precocemente e tratado adequadamente. Mantenha-se informada, cuide de si mesma com carinho e confie na força que existe em você. A prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, aliados a uma atitude positiva e ao autocuidado, fazem toda a diferença.

Post recente

Secreção Pelo Mamilo: Causas, Sinais e Diagnóstico

https://raquelaranha.com.br/lp/papiloma-intraductal-na-mama-o-que-voce-precisa-saber/Você já percebeu uma secreção saindo do seu mamilo e ficou preocupada? Esse sintoma, conhecido medicamente como fluxo papilar mamário,