Tipos de Cirurgia para Câncer de Mama: Guia Completo

Paciente participando ativamente do planejamento de reconstrução mamária com médico

Receber o diagnóstico de câncer de mama e saber que será necessária uma cirurgia pode trazer uma mistura de sentimentos: medo, ansiedade, mas também esperança. A cirurgia representa um passo fundamental no seu tratamento e, quando você compreende suas opções, o processo se torna menos assustador e mais empoderador.

No entanto, quero que você saiba que a informação é uma aliada poderosa nessa jornada. Compreender as opções cirúrgicas, os motivos por trás de cada indicação e o que esperar de todo o processo pode transformar o medo em confiança e te ajudar a se sentir mais segura e no controle do seu tratamento.

Neste artigo, vamos explorar juntas, de forma clara e acolhedora, os tipos de cirurgia para o câncer de mama, quando cada uma delas se aplica, o papel fundamental da reconstrução mamária e como você pode se preparar para essa etapa. Meu objetivo é que, ao final desta leitura, você se sinta mais informada, fortalecida e esperançosa. Vamos lá?

Aviso de Cuidado

Antes de prosseguirmos, lembre-se: as informações compartilhadas aqui têm caráter educativo e informativo. Cada caso de câncer de mama é único, e as decisões sobre o tratamento devem ser individualizadas e discutidas em profundidade com sua equipe médica. Eles são seus maiores aliados para definir o melhor caminho para sua saúde e bem-estar.

Por Que a Cirurgia é um Pilar no Tratamento do Câncer de Mama?

A cirurgia é, frequentemente, um dos principais pilares no tratamento do câncer de mama. O objetivo primordial da cirurgia é remover o tumor da mama, buscando eliminar as células cancerígenas do local. Em muitos casos, a cirurgia é o primeiro passo do tratamento, mas ela também pode ocorrer após outras terapias, como a quimioterapia ou hormonioterapia, que podem ser usadas para reduzir o tamanho do tumor antes do procedimento cirúrgico.

Além da remoção do tumor, a cirurgia frequentemente inclui a avaliação dos linfonodos da axila. Os linfonodos são pequenas estruturas do nosso sistema de defesa que podem ser o primeiro local para onde as células cancerígenas se espalham (linfonodo sentinela). Saber se eles estão comprometidos ajuda a definir o estágio do câncer e a planejar os próximos passos do tratamento, como a necessidade de radioterapia ou quimioterapia.

Pilares da cirurgia de câncer de mama: ressecção tumoral e análise de linfonodos.

A escolha do tipo de cirurgia e o momento de realizá-la dependem de uma série de fatores que nós, médicos, avaliamos cuidadosamente junto com você. Consideramos:

  • Tamanho e localização do tumor: Tumores menores e bem localizados podem permitir cirurgias menos extensas.
  • Tamanho da sua mama: A proporção entre o tumor e o tamanho da mama é um fator importante para decidir entre uma cirurgia conservadora ou uma mastectomia.
  • Comprometimento da pele ou do mamilo: Se o tumor invadiu essas estruturas, isso pode direcionar o tipo de cirurgia.
  • Presença ou ausência de células cancerígenas nos linfonodos axilares: A avaliação dos linfonodos (gânglios) da axila é crucial.
  • Sua saúde geral: Suas condições clínicas gerais são sempre levadas em conta.
  • Suas preferências e valores: Sempre que possível e seguro, suas preferências pessoais são consideradas na decisão terapêutica.
Fluxograma de decisão cirúrgica para câncer de mama: tamanho do tumor, saúde geral e preferências da paciente.

Tipos de Cirurgia da Mama: Entendendo Suas Opções

Existem, basicamente, dois grandes grupos de cirurgias para o tratamento do câncer de mama: as cirurgias conservadoras, que preservam parte da mama, e as mastectomias, que removem a mama por completo.

Escolha entre cirurgia conservadora e mastectomia: preservação vs. remoção total.

1 – Cirurgia Conservadora da Mama (Setorectomia ou Quadrantectomia)

A cirurgia conservadora, também conhecida como quadrantectomia ou setorectomia, é aquela em que removemos apenas o tumor e uma pequena margem de tecido mamário saudável ao redor dele. O objetivo é tratar o câncer eficazmente, preservando ao máximo a aparência e a forma da sua mama.

  • Quando indicamos

    • Tumores pequenos ou em estágios iniciais
    • Boa proporção entre tamanho do tumor e da mama
    • Ausência de múltiplos focos tumorais
Critérios para cirurgia conservadora de mama: tumores pequenos e foco único.
 
  • E depois

Na maioria dos casos, a cirurgia conservadora é seguida por sessões de radioterapia na mama restante. A radioterapia ajuda a eliminar qualquer célula cancerígena que possa ter ficado, reduzindo o risco de o câncer voltar naquele local.

  • Aparência

A incisão (corte) e a quantidade de tecido removido variam conforme a localização e o tamanho do tumor, e o tamanho da sua mama. Nós sempre planejamos a cirurgia buscando o melhor resultado estético possível.

Vias de acesso para cirurgias conservadoras: incisão periareolar, sulco mamário e axilar

 

  • Benefícios

    • Preservação da forma natural da mama
    • Recuperação mais rápida
    • Menor impacto psicológico

Essa alternativa é menos invasiva e, sempre que a segurança oncológica permite, é uma opção que muitas mulheres preferem por manter a maior parte da sua mama. Converse abertamente com seu cirurgião sobre as possibilidades e os resultados esperados.

2 – Mastectomia (Retirada da Mama)

A mastectomia é a cirurgia que envolve a remoção completa da glândula mamária, incluindo o tecido glandular, a aréola e o mamilo em alguns casos.

  • Quando indicamos

    • Tumores grandes em relação ao tamanho da mama, onde uma cirurgia conservadora não conseguiria um bom resultado estético ou margens livres.
    • Presença de múltiplos focos de câncer na mesma mama.
    • Impossibilidade de realizar radioterapia após uma cirurgia conservadora.
    • Quando há um extenso comprometimento da pele pelo tumor.
    • Por preferência da paciente, mesmo quando a cirurgia conservadora é uma opção viável.
Motivos para mastectomia: tumores grandes, mutações genéticas e preferência da paciente.

 

  • Tipos de Mastectomia

    • Mastectomia Total: Remove toda a glândula mamária, a maior parte da pele que a recobre, a aréola e o mamilo.
    • Mastectomia Poupador de Pele: Remove a glândula mamária, aréola e mamilo, mas preserva a maior parte da pele da mama. Isso facilita muito a reconstrução imediata, permitindo um resultado estético mais natural.
    • Mastectomia Poupador de Pele e Mamilo (Nipple-Sparing Mastectomy): Em casos selecionados, quando o tumor não está próximo ao mamilo e à aréola, podemos remover o tecido mamário preservando toda a pele da mama, incluindo o mamilo e a aréola. Essa técnica oferece excelentes resultados estéticos na reconstrução imediata.
    • Mastectomia Radical Modificada: Além da remoção da mama, também se removem os linfonodos axilares. Hoje em dia, essa cirurgia é menos comum, pois geralmente avaliamos os linfonodos de forma menos invasiva primeiro.

3 – Cirurgia da Axila: Investigando os Linfonodos

A axila é uma região muito importante no tratamento do câncer de mama. Os linfonodos (ou gânglios linfáticos) presentes ali funcionam como filtros e são, muitas vezes, o primeiro lugar para onde as células do câncer de mama podem se espalhar. Por isso, avaliar os linfonodos axilares é fundamental para entendermos a extensão da doença e planejarmos o tratamento.

  • Biópsia do Linfonodo Sentinela (BLS):

Para a maioria dos cânceres de mama em estágio inicial, realizamos a biópsia do linfonodo sentinela. O linfonodo sentinela é o primeiro linfonodo (ou primeiros linfonodos) que recebe a drenagem linfática da área do tumor. Durante a cirurgia, injetamos um corante azul e/ou uma substância radioativa próxima ao tumor. Essa substância viaja pelos vasos linfáticos até o linfonodo sentinela, que conseguimos identificar e remover. Ele é então analisado por um patologista.

    • Se o linfonodo sentinela estiver livre de células cancerígenas, isso significa que é muito improvável que outros linfonodos estejam comprometidos, e não precisamos remover mais nenhum. Isso evita uma cirurgia maior na axila e seus possíveis efeitos colaterais.
    • Se o linfonodo sentinela apresentar células cancerígenas, pode ser necessário realizar o esvaziamento axilar ou complementar o tratamento com radioterapia na axila, dependendo de cada caso.
Técnica de biópsia do linfonodo sentinela em cirurgia de câncer de mama
  • Esvaziamento Axilar (ou Linfadenectomia Axilar):

Indicamos este procedimento quando já sabemos que os linfonodos da axila estão comprometidos pelo câncer (confirmado por biópsia prévia) ou, em alguns casos, quando o linfonodo sentinela se mostra positivo. Nesta cirurgia, removemos um número maior de linfonodos da axila para tratar a doença nessa região.

A cirurgia na axila pode, algumas vezes, causar efeitos colaterais como dor, sensação de formigamento ou dormência no braço e na axila, e o mais conhecido deles, o linfedema (inchaço crônico do braço). Por isso, o acompanhamento com fisioterapeuta especializado é essencial para prevenção e tratamento dessas possíveis complicações.

Reconstrução Mamária: Restaurando a Forma e a Autoestima

A perda da mama pode ter um impacto significativo na autoestima e na imagem corporal de uma mulher. A reconstrução mamária é um conjunto de procedimentos cirúrgicos que visa restaurar a forma e, o máximo possível, a aparência da mama após uma mastectomia, ou mesmo para melhorar o resultado estético após uma cirurgia conservadora. Ela é parte integral do tratamento do câncer de mama e um direito seu!

  • Quando fazer a reconstrução

    • Imediatamente: No mesmo tempo cirúrgico da mastectomia. Assim, você já acorda da cirurgia com a mama reconstruída.
    • Tardiamente: Em um segundo momento, após a conclusão de outros tratamentos como radioterapia ou quimioterapia.

A decisão sobre quando e como realizar a reconstrução deve ser tomada em conjunto com sua equipe médica, considerando o estágio da doença, estado clínico da paciente, os tratamentos necessários e suas preferências.

  • Técnicas

    • Com Implantes (Próteses de Silicone ou Expansores): É uma das técnicas mais comuns. Podemos usar um implante de silicone definitivo diretamente, ou primeiro um expansor de tecido. O expansor é como uma bolsa de silicone vazia que colocamos sob a pele e o músculo do tórax. Ao longo de algumas semanas ou meses, injetamos soro fisiológico dentro do expansor, esticando gradualmente a pele e criando espaço para, depois, substituí-lo por um implante de silicone definitivo.
    • Com Tecidos do Próprio Corpo (Retalhos Autólogos): Nesta técnica, utilizamos pele, gordura e, às vezes, músculo de outra parte do seu corpo (como abdômen – TRAM ou DIEP, costas – Grande Dorsal, ou glúteos) para criar uma nova mama. Esses procedimentos são mais complexos, mas podem oferecer resultados muito naturais e duradouros, especialmente se você precisar de radioterapia.
Reconstrução mamária com tecido próprio: retalho TRAM abdominal vs. retalho do músculo grande dorsal
 
    • Técnicas Combinadas: Às vezes, associamos o uso de implantes com retalhos.

Além da criação do volume mamário, a reconstrução pode incluir etapas posteriores para refinar o resultado, como:

    • Simetrização: Procedimentos na outra mama (como redução, elevação ou aumento) para deixá-las o mais parecidas possível.
Infográfico cirúrgico mostrando soluções para assimetria, ptose e reconstrução pós-câncer

 

    • Lipoenxertia (Enxerto de Gordura): Utilizamos gordura retirada de outra área do seu corpo (por lipoaspiração) para preencher pequenas depressões, melhorar o contorno da mama reconstruída ou suavizar as bordas de um implante.
    • Reconstrução do Complexo Aréolo-Mamilar (CAM): Após a cicatrização da mama reconstruída, podemos recriar o mamilo e a aréola através de pequenas cirurgias locais ou com tatuagem/micropigmentação, o que devolve um aspecto ainda mais natural à mama.
Opções de reconstrução mamária: implantes, retalhos autólogos e micropigmentação.

A reconstrução mamária é uma jornada, muitas vezes realizada em etapas, mas que pode trazer imensos benefícios para sua qualidade de vida e bem-estar emocional.

O Que Esperar Antes e Depois da Cirurgia?

Saber o que esperar pode te ajudar a se sentir mais tranquila e preparada.

1 – Antes da Cirurgia

  • Consultas e Exames: Você passará por consultas com seu mastologista, anestesista e, possivelmente, outros especialistas. Fará exames pré-operatórios (sangue, eletrocardiograma, etc.). Este é o momento de tirar TODAS as suas dúvidas. Anote-as para não esquecer!
  • Planejamento: Discuta detalhadamente o tipo de cirurgia, a necessidade de avaliação dos linfonodos, as opções de reconstrução (se aplicável) e o que esperar do pós-operatório.
  • Orientações: Você receberá instruções sobre jejum, medicamentos que deve ou não tomar antes da cirurgia, e como se preparar para a internação.

2 – No Dia da Cirurgia

  • Você será internada no hospital, passará por uma avaliação final e será encaminhada ao centro cirúrgico.
  • A anestesia geralmente é geral, o que significa que você dormirá durante todo o procedimento.

3 – Após a Cirurgia (Recuperação)

  • Internação: O tempo de internação varia conforme o tipo de cirurgia, de algumas horas a poucos dias.
  • Dor: É normal sentir algum desconforto ou dor, que será controlada com analgésicos prescritos.
  • Drenos: Em muitos casos, são colocados drenos cirúrgicos no local da cirurgia. São pequenos tubos que ajudam a remover o excesso de líquido que se acumula após a operação, prevenindo infecções e ajudando na cicatrização. Você receberá orientações sobre como cuidar deles em casa, caso receba alta com o dreno.
  • Curativos: Os curativos protegerão a área operada. Siga as instruções médicas sobre como cuidar deles e quando trocá-los ou retirá-los.
  • Mobilidade: Você será incentivada a se movimentar gradualmente. Exercícios leves para o braço do lado operado são importantes para prevenir rigidez e linfedema, sempre sob orientação profissional.
  • Retorno às Atividades: O tempo para retomar suas atividades diárias, trabalho e exercícios mais intensos varia bastante. Converse com seu médico.
  • Apoio Emocional: A cirurgia pode mexer com suas emoções. Não hesite em buscar apoio psicológico, conversar com amigos, familiares ou grupos de apoio. Você não precisa passar por isso sozinha.

Cirurgias Adicionais: Às Vezes, Parte do Caminho

Em algumas situações, pode ser necessário um novo procedimento cirúrgico após a cirurgia principal:

  • Ampliação de Margens: Se a análise do tecido retirado (exame anatomopatológico) mostrar que as margens de segurança ao redor do tumor não estão completamente livres de células cancerígenas, uma nova cirurgia para remover mais tecido (ampliar as margens) pode ser indicada, especialmente após cirurgias conservadoras.
  • Retoques Estéticos ou Simetrizações: Após a reconstrução mamária ou mesmo após uma cirurgia conservadora, podem ser necessários pequenos ajustes para melhorar a simetria entre as mamas, o contorno ou o resultado estético final.

Cada decisão é sempre personalizada, e nós, médicos, discutiremos com você a necessidade e os objetivos de qualquer procedimento adicional, sempre visando seu bem-estar completo, o sucesso do tratamento oncológico e sua satisfação com os resultados da reconstrução.

Você Não Está Sozinha: A Importância da Equipe Multidisciplinar

O tratamento do câncer de mama, incluindo a etapa cirúrgica, é conduzido por uma equipe multidisciplinar. Essa equipe geralmente inclui o mastologista (cirurgião), oncologista clínico, radioterapeuta, patologista, radiologista, enfermeiros especializados, fisioterapeuta, nutricionista e psicólogo. Trabalhamos juntos, integrando nossos conhecimentos, para oferecer a você o cuidado mais completo e individualizado possível. Sinta-se à vontade para conversar com cada um deles!

Equipe multidisciplinar no tratamento do câncer de mama: mastologista, oncologista e psicólogo.

Informação e Acolhimento Transformam a Jornada

Eu sei que a perspectiva de uma cirurgia pode trazer muitas incertezas. No entanto, espero que esta conversa tenha te ajudado a compreender melhor as opções cirúrgicas para o câncer de mama e o que esperar desse processo.

Escolher o tipo de cirurgia é uma decisão que tomamos juntas – você e sua equipe médica – baseada em evidências científicas, nas características da sua doença e, muito importante, nos seus valores e desejos. Com informação clara, apoio médico humanizado e um ambiente de acolhimento, essa etapa do tratamento pode se tornar mais leve e menos assustadora.

Apoio emocional durante tratamento: mãos entrelaçadas simbolizando solidariedade no câncer

Lembre-se: a cirurgia é um passo fundamental na sua jornada de cura. É possível tratar o câncer e, ao mesmo tempo, cuidar da sua autoestima, da sua imagem corporal e da sua qualidade de vida. Você é forte, e a medicina está aqui para te ajudar a vencer mais essa batalha.

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