O câncer de mama é uma das doenças mais discutidas e temidas entre as mulheres, mas também uma das que mais geram dúvidas e são cercadas por mitos que podem causar medo desnecessário ou até mesmo dificultar a prevenção e o diagnóstico precoce. Como médica mastologista, percebo diariamente em meu consultório como a desinformação pode impactar negativamente a saúde das minhas pacientes. Por isso, decidi esclarecer alguns dos mitos mais comuns sobre o câncer de mama e trazer informações baseadas em evidências científicas.

Os mitos mais comuns sobre o câncer de mama

  1. Apenas mulheres idosas desenvolvem câncer de mama

Mito! Embora a idade seja um fator de risco importante e a incidência aumente após os 50 anos, o câncer de mama pode afetar mulheres de todas as idades, inclusive jovens na casa dos 20 e 30 anos.

Tenho observado um aumento preocupante de casos em mulheres jovens nos últimos anos. Por isso, recomendo:

  • Realizar o autoexame mensal a partir dos 20 anos
  • Consultar um mastologista anualmente a partir dos 25 anos
  • Iniciar os exames de imagem conforme orientação médica individualizada

Lembre-se: conhecer seu corpo e perceber mudanças é o primeiro passo para a detecção precoce.

  1. O uso de desodorantes e antitranspirantes causa câncer de mama

Mito! Esta é uma crença bastante difundida, mas que não possui respaldo científico. Os estudos realizados até hoje não encontraram evidências consistentes que comprovem a relação entre o uso de desodorantes ou antitranspirantes contendo alumínio e o desenvolvimento de câncer de mama.

A origem desse mito está relacionada à proximidade das axilas com as mamas e à presença de substâncias como alumínio e parabenos em alguns produtos. No entanto, as pesquisas mostram que a quantidade dessas substâncias absorvida pela pele é mínima e não representa risco significativo.

Mulher aplicando desodorante na axila em um ambiente doméstico.

 

  1. Se não tenho histórico familiar, estou protegida do câncer de mama

Mito! Essa é uma falsa sensação de segurança que pode ser perigosa. Apenas 5% a 10% dos casos de câncer de mama são de origem hereditária. Isso significa que a grande maioria das mulheres diagnosticadas com câncer de mama não possui histórico familiar da doença.

Fatores como:

  • Menstruação precoce (antes dos 12 anos)
  • Menopausa tardia (após os 55 anos)
  • Primeira gravidez após os 30 anos
  • Obesidade pós-menopausa
  • Consumo excessivo de álcool
  • Sedentarismo

Também influenciam no risco de desenvolver a doença, independentemente do histórico familiar.

  1. O câncer de mama sempre se manifesta como um nódulo palpável

Mito! Embora o nódulo palpável seja o sinal mais conhecido, nem todo câncer de mama apresenta essa característica, especialmente em estágios iniciais. Alguns tumores são detectados apenas por exames de imagem, como a mamografia e a ultrassonografia.

Outros sinais que merecem atenção incluem:

  • Alterações na pele da mama (vermelhidão, retração, aspecto de casca de laranja)
  • Mudanças no formato ou tamanho da mama
  • Secreção pelo mamilo, especialmente se sanguinolenta
  • Inversão do mamilo que antes era protruso
  • Nódulos na região das axilas
  1. Homens não desenvolvem câncer de mama

Mito! Embora seja mais raro, os homens também podem desenvolver câncer de mama. A doença representa cerca de 1% do total de casos e geralmente está associada a fatores de risco como histórico familiar, alterações genéticas (especialmente mutações nos genes BRCA1 e BRCA2), e condições que elevam os níveis de estrogênio.

Os homens devem estar atentos a:

  • Nódulos indolores na região mamária
  • Alterações na pele ou mamilo
  • Secreção pelo mamilo
  1. Sutiã com aro ou muito apertado pode causar câncer de mama

Mito! Não existe nenhuma evidência científica que comprove a relação entre o uso de sutiãs, seja com aro ou apertados, e o desenvolvimento de câncer de mama. Esse mito surgiu da ideia errônea de que a compressão causada pelo sutiã prejudicaria o fluxo linfático e favoreceria o acúmulo de toxinas.

O desconforto causado por um sutiã inadequado pode gerar dores e marcas, mas não está relacionado ao surgimento de câncer. É importante escolher modelos confortáveis e do tamanho correto para o seu corpo.

Mulher escolhendo sutiã em loja de lingerie.

 

  1. O diagnóstico de câncer de mama sempre leva à mastectomia total

Mito! O tratamento do câncer de mama é individualizado e depende de diversos fatores, como o tamanho e localização do tumor, estágio da doença, características biológicas do tumor e condições clínicas da paciente.

Em muitos casos, especialmente quando diagnosticado precocemente, é possível realizar:

  • Cirurgias conservadoras (que removem apenas o tumor e preservam a maior parte da mama)
  • Técnicas oncoplásticas (que aliam a remoção do tumor à reconstrução estética da mama)
  • Tratamentos complementares como radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e terapias-alvo

A medicina evoluiu significativamente nessa área, oferecendo opções que preservam a autoestima e a qualidade de vida da mulher.

  1. Mamografia expõe a uma radiação perigosa

Mito! A dose de radiação emitida durante uma mamografia é extremamente baixa e considerada segura. Os aparelhos modernos são cada vez mais precisos e emitem quantidades mínimas de radiação, com benefícios muito superiores aos possíveis riscos.

A mamografia continua sendo o principal método de rastreamento do câncer de mama, capaz de detectar lesões que ainda não são palpáveis, aumentando significativamente as chances de cura. Os benefícios do exame superam em muito os riscos teóricos da exposição à radiação.

Mulher realizando exame de mamografia.

 

  1. Implantes de silicone aumentam o risco de câncer de mama

Mito! Não há evidências científicas que associem os implantes mamários de silicone ao aumento do risco de desenvolver câncer de mama. As próteses são testadas e aprovadas por órgãos reguladores rigorosos quanto à sua segurança.

O que ocorre é que, em alguns casos, os implantes podem dificultar a visualização de algumas áreas da mama durante a mamografia convencional. Por isso, mulheres com próteses mamárias podem necessitar de incidências especiais ou exames complementares, como a ultrassonografia e a ressonância magnética.

Mulher sorrindo escolhendo implante mamário.
  1. Consumir açúcar “alimenta” o câncer de mama

Mito parcial! Embora todas as células do corpo utilizem glicose como fonte de energia, inclusive as células cancerígenas, não existe evidência direta de que o consumo de açúcar cause ou acelere o crescimento específico do câncer de mama.

No entanto, o consumo excessivo de açúcar e alimentos ultraprocessados está associado ao ganho de peso e obesidade, que são fatores de risco para diversos tipos de câncer, incluindo o de mama, especialmente após a menopausa. Uma alimentação equilibrada, rica em vegetais, frutas, grãos integrais e com redução de açúcares e gorduras saturadas, faz parte de um estilo de vida saudável que contribui para a prevenção de diversas doenças.

Verdades que você precisa saber sobre o câncer de mama

  1. A detecção precoce salva vidas: Quando diagnosticado em estágios iniciais, o câncer de mama tem mais de 95% de chances de cura.
  2. O autoexame é importante, mas não substitui os exames clínicos e de imagem: Aprenda a conhecer suas mamas, mas mantenha o acompanhamento regular com seu mastologista.
  3. Hábitos saudáveis reduzem o risco: Alimentação equilibrada, atividade física regular, manutenção do peso adequado e redução do consumo de álcool são medidas que ajudam a prevenir o câncer de mama.
  4. O tratamento é individualizado: Cada caso é único e o plano terapêutico é elaborado considerando diversos fatores, sempre buscando os melhores resultados com a menor interferência na qualidade de vida.

Conclusão

A informação correta é uma poderosa aliada na prevenção e no combate ao câncer de mama. Ao desmistificar crenças infundadas, podemos reduzir o medo e a ansiedade que muitas vezes impedem as mulheres de buscar o cuidado necessário para sua saúde.

Lembre-se: converse sempre com seu médico mastologista sobre suas dúvidas e preocupações. Juntos, podemos construir um caminho de prevenção e cuidado que respeite sua individualidade e promova sua saúde integral.

O câncer de mama, quando descoberto precocemente, tem altas chances de cura.

Mantenha seus exames em dia, pratique o autoconhecimento e compartilhe informações de qualidade. O conhecimento é o primeiro passo para o autocuidado e a preservação da vida.

Escrito por:

Dra. Raquel Aranha

Médica Mastologista Cirurgiã em São Luís/MA.

CRM-MA: 5005 | RQE: 2464

(98) 9.8419-0885

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