Se você ou alguém que você ama recebeu um diagnóstico de câncer de mama, provavelmente já ouviu falar sobre o exame de imunohistoquímica. Como médica mastologista, sei que entender esses termos técnicos pode ser desafiador. Por isso, preparei este artigo para explicar, em linguagem simples, como esse exame é crucial para definir o melhor tratamento para cada paciente.

O que é a Imunohistoquímica?

A imunohistoquímica é um exame laboratorial realizado no tecido tumoral retirado da mama, geralmente obtido através de biópsia ou durante a cirurgia. Pense nela como uma “impressão digital” do seu câncer – ela revela características únicas da doença que são invisíveis em exames comuns.

Médica patologista realizando análise de tecido tumoral.

 

Este exame utiliza anticorpos especiais que se ligam a proteínas específicas presentes nas células cancerígenas, identificando “marcadores” que determinam:

  • Qual será o comportamento do tumor
  • Quais tratamentos serão mais eficazes
  • Como personalizar a abordagem terapêutica
Função dos marcadores da imunohistoquímica no tratamento do câncer de mama.

 

Você sabia? O mesmo material da biópsia pode ser utilizado para o exame de imunohistoquímica, sem necessidade de uma nova coleta.

Por que a Imunohistoquímica é fundamental no tratamento?

Antes de iniciar qualquer tratamento contra o câncer de mama, precisamos entender exatamente com que tipo de tumor estamos lidando. Cada câncer tem suas particularidades e responde de forma diferente às terapias disponíveis.

A imunohistoquímica fornece informações preciosas que ajudam a equipe médica a determinar:

  • Se o tumor responderá à hormonioterapia
  • Se há indicação para medicamentos específicos anti-HER2
  • Se a quimioterapia será necessária e qual tipo
  • Se o tratamento deve começar com cirurgia ou com terapia sistêmica
Processo de tomada de decisão no tratamento do câncer de mama com base na imunohistoquímica.

 

Com essas informações, seu médico pode oferecer um tratamento personalizado, evitando terapias desnecessárias e focando naquelas que terão maior chance de sucesso no seu caso específico.

Principais Marcadores Analisados na Imunohistoquímica

Conhecer os marcadores avaliados pela imunohistoquímica pode ajudá-la a entender melhor seu diagnóstico. Vamos conhecer os principais:

1 – Receptor de Estrogênio (RE)

  • Indica se o tumor é estimulado pelo hormônio estrogênio
  • Tumores RE positivos geralmente respondem bem à hormonioterapia
  • Aproximadamente 70% dos cânceres de mama são positivos para este receptor

2 – Receptor de Progesterona (RP)

  • Mostra se o tumor é sensível ao hormônio progesterona
  • Geralmente acompanha a positividade do receptor de estrogênio
  • Sua presença reforça o benefício da hormonioterapia

3 – HER2

  • Proteína que, quando presente em excesso, indica um tumor mais agressivo
  • Tumores HER2 positivos respondem bem a terapias-alvo específicas
  • Cerca de 20% dos cânceres de mama são HER2 positivos

4 – Ki67

  • Mede a taxa de proliferação celular (velocidade de multiplicação das células)
  • Valores mais altos indicam tumores com crescimento mais rápido
  • Ajuda a determinar a necessidade de quimioterapia
Marcadores da imunohistoquímica no câncer de mama e suas implicações no tratamento.

 

Entendendo os Subtipos de Câncer de Mama

Com base nos marcadores identificados pela imunohistoquímica, podemos classificar o câncer de mama em diferentes subtipos, cada um com características próprias e abordagens terapêuticas específicas:

1. Luminal A

Características: RE positivo, RP positivo, HER2 negativo, Ki67 baixo

Prognóstico: Geralmente favorável, com menor risco de recidiva

Tratamento: Responde muito bem à hormonioterapia, podendo às vezes dispensar a quimioterapia

2. Luminal B

Características: RE positivo, RP positivo ou negativo, HER2 negativo, Ki67 alto

Prognóstico: Moderado, com comportamento mais agressivo que o Luminal A

Tratamento: Hormonioterapia e, frequentemente, quimioterapia

3. HER2-positivo

Características: Superexpressão de HER2, com ou sem receptores hormonais

Prognóstico: Historicamente considerado agressivo, mas com excelentes respostas às terapias atuais

Tratamento: Terapias-alvo anti-HER2 associadas à quimioterapia e, quando indicado, hormonioterapia

4. Triplo Negativo (Basal-like)

Características: Ausência de RE, RP e HER2

Prognóstico: Geralmente mais agressivo

Tratamento: Quimioterapia e, em alguns casos, imunoterapia

Características e tratamentos dos subtipos de câncer de mama.
Subtipos de câncer de mama e suas características principais.

 

O que acontece após o resultado da Imunohistoquímica?

Uma vez com os resultados em mãos, a equipe médica pode elaborar um plano de tratamento personalizado, que poderá incluir uma ou mais das seguintes abordagens:

Cirurgia: Remoção do tumor (conservadora ou mastectomia)

Quimioterapia: Antes ou após a cirurgia, dependendo do caso

Radioterapia: Para reduzir o risco de recidiva local

Hormonioterapia: Para tumores com receptores hormonais positivos

Terapias-alvo: Como os anticorpos monoclonais para tumores HER2 positivos

Imunoterapia: Especialmente para alguns casos de câncer triplo negativo

Tratamentos personalizados após imunohistoquímica no câncer de mama.

 

Lembre-se: cada caso é único e será avaliado individualmente, considerando não apenas as características do tumor, mas também sua idade, saúde geral e preferências pessoais.

Perguntas Frequentes sobre a Imunohistoquímica

Quanto tempo leva para sair o resultado? Geralmente, o resultado da imunohistoquímica fica pronto em 7 a 14 dias após a biópsia ou cirurgia.

O exame é doloroso? Não. A imunohistoquímica é realizada em laboratório com o material já coletado na biópsia ou cirurgia.

O plano de saúde cobre este exame? Sim, na maioria dos casos. A imunohistoquímica é considerada parte essencial do diagnóstico do câncer de mama e está incluída nas coberturas obrigatórias dos planos de saúde.

É possível o resultado mudar ao longo do tratamento? Em alguns casos, sim. Por isso, pode ser necessário repetir a biópsia e a imunohistoquímica se houver recidiva ou metástase.

Conclusão: Conhecimento é poder na luta contra o câncer

A imunohistoquímica representa um avanço extraordinário no tratamento do câncer de mama, permitindo uma abordagem verdadeiramente personalizada para cada paciente. Graças a este exame, podemos oferecer tratamentos mais eficazes, com menos efeitos colaterais e melhores resultados.

Processo de imunohistoquímica na análise do câncer de mama.

 

Como podemos ver no fluxograma abaixo, cada subtipo de câncer de mama tem um caminho terapêutico próprio baseado nos resultados da imunohistoquímica. Este diagrama ilustra perfeitamente como o conhecimento dos marcadores tumorais direciona nossas decisões clínicas: desde o Luminal A com prognóstico favorável tratado principalmente com hormonioterapia, até o Triplo Negativo com prognóstico mais desafiador, que requer abordagens mais intensivas como quimioterapia e imunoterapia. Esta representação visual resume de forma didática o que discutimos ao longo deste artigo – a personalização do tratamento baseada na biologia específica de cada tumor.

Classificação e tratamento do câncer de mama com base na imunohistoquímica.

 

Entender seu diagnóstico é o primeiro passo para enfrentar essa jornada com confiança. Como mastologista, sempre enfatizo a importância de conversar abertamente com sua equipe médica, esclarecer todas as dúvidas e participar ativamente das decisões sobre seu tratamento.

Lembre-se: você não está sozinha nessa jornada. Com informação de qualidade, acompanhamento médico adequado e apoio emocional, é possível enfrentar o câncer de mama com resiliência e esperança.

Escrito por:

Dra. Raquel Aranha

Médica Mastologista Cirurgiã em São Luís/MA.

CRM-MA: 5005 | RQE: 2464

(98) 9.8419-0885

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