O estadiamento do câncer de mama é um processo fundamental após o diagnóstico. Quando uma mulher descobre que tem câncer de mama, entender o estágio da doença se torna essencial para definir os próximos passos do tratamento e ter uma visão clara sobre o prognóstico.

Vamos compreender melhor como funciona o estadiamento, por que ele é tão importante e como ele influencia diretamente nas decisões terapêuticas que farão parte da sua jornada ou da jornada de alguém que você ama.

O que é o estadiamento do câncer de mama?

O estadiamento é um processo de avaliação que determina o quanto o câncer progrediu desde seu surgimento. Ele busca responder três perguntas principais:

  • Onde exatamente está o câncer? Permanece restrito à mama ou atingiu outras áreas?
  • Qual o tamanho do tumor e há envolvimento dos linfonodos (gânglios linfáticos)?
  • O câncer já se espalhou para outros órgãos (metástase)?
Considerações no estadiamento do câncer de mama: localização do tumor, envolvimento linfonodal e metástases.

 

Essas informações são cruciais para:

  • Avaliar o prognóstico, ou seja, as expectativas de cura e sucesso do tratamento
  • Planejar a abordagem terapêutica mais apropriada para cada caso
  • Permitir uma comunicação clara entre os profissionais de saúde
  • Facilitar a participação da paciente nas decisões sobre seu tratamento
Papel do estadiamento no câncer de mama: prognóstico, planejamento terapêutico e comunicação entre equipe médica e paciente.

 

Importante: O estadiamento não define apenas um número, mas sim um caminho personalizado para o seu tratamento, considerando suas características individuais e as particularidades do seu caso.

Como é realizado o estadiamento?

O processo de estadiamento envolve várias etapas e exames:

1- Exame físico detalhado

A avaliação clínica das mamas, axilas e região supraclavicular (acima das clavículas) é o primeiro passo. O médico examina cuidadosamente essas áreas, procurando por:

  • Nódulos palpáveis
  • Alterações na pele
  • Sinais de retração ou abaulamentos
  • Secreções pelo mamilo
  • Aumento dos linfonodos

2 – Exames de imagem

Os principais exames de imagem utilizados são:

  • Mamografia: Fundamental para detectar nódulos e microcalcificações
  • Ultrassonografia das mamas e axilas: Complementa a mamografia, especialmente em mamas densas
  • Ressonância magnética das mamas: Oferece imagens detalhadas em casos selecionados
  • Tomografia computadorizada: Avalia possível disseminação para outros órgãos
  • PET Scan: Detecta áreas com atividade metabólica aumentada, sugestivas de câncer
  • Cintilografia óssea: Investiga comprometimento dos ossos
Processo de estadiamento do câncer de mama: exames físicos, mamografia, ultrassonografia, tomografia e ressonância magnética.

3 – Exames laboratoriais

Exames de sangue são solicitados para:

  • Avaliar o estado geral de saúde
  • Verificar a função de órgãos como fígado e rins

4 – Biópsia

Além dos exames acima, a biópsia do tumor e, quando necessário, dos linfonodos, é fundamental não apenas para confirmar o diagnóstico, mas também para determinar características biológicas do tumor que influenciam no estadiamento e nas decisões terapêuticas.

Sistema TNM: A base do estadiamento

O estadiamento do câncer de mama segue principalmente o sistema TNM (Tumor,

Nódulos, Metástases), reconhecido mundialmente:

1. T (Tumor): Descreve o tamanho do tumor primário e se ele invadiu tecidos próximos

  • T0: Sem evidência de tumor primário
  • Tis: Carcinoma in situ
  • T1: Tumor ≤ 2 cm
  • T2: Tumor > 2 cm e ≤ 5 cm
  • T3: Tumor > 5 cm
  • T4: Tumor de qualquer tamanho com extensão à parede torácica ou pele

2. N (Nódulos linfáticos): Avalia o envolvimento dos linfonodos regionais

  • N0: Sem metástases nos linfonodos regionais
  • N1: Metástases em 1-3 linfonodos axilares
  • N2: Metástases em 4-9 linfonodos axilares
  • N3: Metástases em ≥ 10 linfonodos axilares ou em linfonodos infraclaviculares

3. M (Metástases): Indica a presença de metástases à distância

  • M0: Sem metástases à distância
  • M1: Presença de metástases à distância
Sistema TNM para estadiamento do câncer de mama: classificação por tamanho do tumor (T0-T4), linfonodos (N0-N3) e metástases (M0-M1).

Os estágios do câncer de mama e seus significados

Com base na classificação TNM, o câncer de mama é categorizado em estágios:

Estágio 0 (carcinoma in situ): Células anormais estão confinadas aos ductos ou lóbulos, sem invasão de tecidos adjacentes. Prognóstico excelente, com taxa de cura próxima a 100%.

Estágio I: Tumor pequeno (≤ 2 cm) limitado à mama, sem comprometimento dos linfonodos. Prognóstico muito bom, com taxas de sobrevida em 5 anos superiores a 95%.

Estágio II: Duas possibilidades:

  • Tumor de até 2 cm com acometimento de poucos linfonodos axilares
  • Tumor maior (2-5 cm) com ou sem comprometimento linfonodal Prognóstico favorável, com taxas de sobrevida em 5 anos entre 85% e 90%.

Estágio III: Câncer localmente avançado, que pode incluir:

  • Tumor maior que 5 cm com comprometimento linfonodal
  • Qualquer tumor com extensa invasão linfonodal
  • Tumor com invasão da pele ou parede torácica Prognóstico moderado, com taxas de sobrevida em 5 anos entre 65% e 80%.

Estágio IV: Câncer que se espalhou para outros órgãos. Os locais mais frequentes de metástase do câncer de mama são:

  • Ossos: Responsáveis por aproximadamente 70% das metástases, podem causar dor, fraturas e alterações nos níveis de cálcio no sangue.
Imagem 3D de um humano mostrando em destaque os ossos da coluna.
  • Pulmões: Ocorrem em cerca de 60% dos casos de metástase, podendo causar falta de ar, tosse persistente e dor torácica.
Imagem 3D de um tronco humano mostrando em destaque os pulmões.
  • Fígado: Presente em aproximadamente 50% dos casos metastáticos, podem causar dor abdominal, icterícia e alterações nas funções hepáticas.
Imagem 3D de um abdomen humano mostrando em destaque o fígado.
  • Outros locais incluem cérebro, pele e linfonodos distantes.

Embora o estágio IV seja considerado incurável na maioria dos casos, os avanços no tratamento têm proporcionado sobrevida prolongada e boa qualidade de vida para muitas pacientes, com algumas vivendo vários anos com a doença controlada.

Fluxograma da progressão do câncer de mama: características e prognóstico dos estágios I a V, incluindo tamanho do tumor e comprometimento linfonodal.

 

Como o estadiamento influencia o tratamento

O plano de tratamento é definido com base em vários fatores:

  • No estágio da doença
  • Idade e estado geral de saúde da paciente
  • Status da menopausa
  • Características biológicas do tumor (receptores hormonais, HER2, Ki-67)
  • Preferências pessoais da paciente
Fluxograma de decisão para tratamento do câncer de mama: estágio da doença, status da menopausa, idade e características do tumor.

 

Opções de tratamento por estágio

Estágio 0:

  • Cirurgia (conservadora ou mastectomia)
  • Radioterapia (se cirurgia conservadora)
  • Em alguns casos, terapia hormonal preventiva

Estágios I e II:

  • Cirurgia (conservadora ou mastectomia)
  • Biópsia do linfonodo sentinela
  • Radioterapia (se cirurgia conservadora)
  • Quimioterapia (dependendo de fatores de risco)
  • Terapia hormonal (se receptores positivos)
  • Terapia anti-HER2 (se HER2 positivo)

Estágio III:

  • Quimioterapia neoadjuvante (antes da cirurgia)
  • Cirurgia (conservadora ou mastectomia)
  • Biópsia do linfonodo sentinela ou esvaziamento axilar
  • Radioterapia (se cirurgia conservadora)
  • Terapias adicionais (hormonal, anti-HER2) conforme indicado

Estágio IV:

  • Tratamento sistêmico (quimioterapia, hormonioterapia, terapia alvo)
  • Cirurgia e radioterapia em situações específicas
  • Tratamentos paliativos para controle de sintomas e melhora da qualidade de vida

Orientações práticas: O que fazer após conhecer o estadiamento?

Receber o diagnóstico e entender o estágio do câncer de mama pode ser emocionalmente desafiador. Aqui estão algumas orientações:

1. Busque informações de fontes confiáveis

  • Converse com seu médico sobre dúvidas específicas
  • Consulte materiais educativos de instituições respeitadas
  • Evite pesquisas aleatórias na internet, que podem gerar mais ansiedade

2. Participe ativamente das decisões sobre seu tratamento

  • Faça perguntas e esclareça todas as suas dúvidas
  • Leve um acompanhante às consultas para ajudar a absorver as informações
  • Anote os pontos principais discutidos com a equipe médica

3. Busque apoio emocional

  • Psicoterapia especializada em pacientes oncológicos
  • Grupos de apoio a pacientes com câncer de mama
  • Compartilhe seus sentimentos com pessoas de confiança

4. Adote hábitos saudáveis durante o tratamento

  • Alimentação equilibrada e adaptada às suas necessidades
  • Atividade física moderada, conforme orientação médica
  • Técnicas de redução de estresse, como meditação e yoga
  • Sono de qualidade

Lembre-se: Você não está sozinha nessa jornada. Uma rede de apoio formada por profissionais, familiares e amigos pode fazer toda a diferença no enfrentamento da doença.

Conclusão

O estadiamento do câncer de mama é muito mais que uma classificação médica – é uma ferramenta essencial que orienta todo o planejamento terapêutico e fornece informações importantes sobre o prognóstico. Compreender o estágio da doença ajuda a paciente e sua família a terem expectativas realistas e a participarem ativamente das decisões sobre o tratamento.

Cada mulher é única, e o tratamento será sempre personalizado, considerando não apenas o estágio da doença, mas todas as características individuais. Os avanços científicos têm proporcionado tratamentos cada vez mais eficazes e menos agressivos, melhorando significativamente as taxas de cura e a qualidade de vida das pacientes.

Conhecimento é poder – e entender o estadiamento é um passo fundamental para enfrentar o câncer de mama com mais segurança e confiança. Lembre-se: diagnóstico precoce e tratamento adequado são as melhores armas contra o câncer de mama.

Escrito por:

Dra. Raquel Aranha

Médica Mastologista Cirurgiã em São Luís/MA.

CRM-MA: 5005 | RQE: 2464

(98) 9.8419-0885

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