Você já deve ter ouvido falar que o câncer de mama pode “vir de família”. Mas você sabe exatamente o que isso significa? Muitas mulheres ficam confusas quando escutam termos como “câncer genético” e “câncer hereditário”, frequentemente usados como sinônimos, quando na verdade representam conceitos diferentes. Compreender essas diferenças é fundamental para avaliar corretamente seu risco pessoal e tomar decisões informadas sobre prevenção e acompanhamento.

Neste artigo, vou explicar de forma simples e clara as diferenças entre o câncer de mama genético e o hereditário, além de fornecer orientações importantes para quem tem histórico familiar da doença. Vamos entender juntas como o conhecimento pode ser nossa maior aliada na prevenção!

Mulher segurando relatório médico com imagem 3D de DNA.

 

O que é o câncer de mama genético?

Na verdade, todo câncer de mama é genético. Isso porque todos os casos de câncer surgem a partir de mutações (alterações) em genes que controlam o crescimento e a divisão celular. Quando esses genes são danificados, as células podem começar a se multiplicar de forma descontrolada, formando um tumor.

Essas alterações genéticas podem acontecer ao longo da vida por diversos motivos:

  • Exposição a fatores ambientais (radiação, produtos químicos)
  • Hábitos de vida (tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo)
  • Processos naturais de envelhecimento celular
  • Hormônios (exposição prolongada ao estrogênio)
Fatores genéticos adquiridos que influenciam o risco de câncer de mama.

O que é o câncer de mama hereditário?

O câncer de mama hereditário é um subtipo específico dentro dos cânceres genéticos. A grande diferença é que neste caso, a pessoa já nasce com uma alteração genética que aumenta significativamente seu risco de desenvolver a doença.

Esta mutação é herdada de um dos pais e está presente em todas as células do corpo desde o nascimento.

Comparativo entre câncer de mama hereditário (5-10% dos casos) e adquirido (90-96% dos casos), destacando causas e características.

 

Os genes mais frequentemente associados ao câncer de mama hereditário são:

  • BRCA1 e BRCA2: As mutações nesses genes são as mais conhecidas e estudadas. Mulheres com alterações no BRCA1 ou BRCA2 têm um risco de até 70% de desenvolver câncer de mama ao longo da vida (comparado a cerca de 12% na população geral). Estas mutações também aumentam o risco de câncer de ovário.
  • TP53 (relacionado à Síndrome de Li-Fraumeni)
  • PALB2
  • ATM
  • CHEK2
  • PTEN (Síndrome de Cowden)
Principais genes associados ao câncer de mama hereditário, como BRCA1, BRCA2 e TP53.

 

O câncer de mama hereditário corresponde a apenas 5-10% de todos os casos de câncer de mama, mas é importante identificá-lo porque exige uma abordagem diferenciada de prevenção e acompanhamento.

Quando suspeitar de predisposição hereditária ao câncer de mama?

Alguns “sinais de alerta” aumentam a suspeita de que pode haver um componente hereditário envolvido no risco de câncer de mama. Fique atenta se em sua família houver:

  • Múltiplos casos de câncer de mama, especialmente em parentes de primeiro grau (mãe, irmãs, filhas)
  • Diagnóstico de câncer de mama em idade jovem (antes dos 45 anos)
  • Casos de câncer de ovário na família (particularmente relacionado a mutações no BRCA1/2)
  • História de câncer de mama masculino (raro e frequentemente associado a mutações genéticas)
  • Pessoa com câncer bilateral (nos dois seios) ou mais de um tumor primário
  • Outros tipos específicos de câncer na família, como pâncreas e próstata agressivo, que podem estar relacionados às mesmas mutações
Sinais de alerta para câncer de mama hereditário em históricos familiares.

 

Se você identificou um ou mais desses fatores em sua história familiar, converse com seu médico mastologista. Ele poderá encaminhá-la para um aconselhamento genético com um especialista, que avaliará a necessidade de realizar testes genéticos.

Aconselhamento genético: o que é e quando buscar?

O aconselhamento genético é uma consulta especializada que ajuda a determinar seu risco individual com base na história familiar e outros fatores. Durante esse processo:

  • Um geneticista ou profissional especializado analisa detalhadamente sua história familiar de câncer
  • É criado um heredograma (mapa da família) para identificar padrões
  • O especialista avalia se há indicação para testes genéticos
  • São discutidas as implicações dos possíveis resultados para você e sua família
Passos do aconselhamento genético para avaliação de risco de câncer hereditário.

O aconselhamento genético é recomendado antes da realização de qualquer teste, pois ajuda a entender as possibilidades de resultados e seu impacto emocional e prático.

Lembre-se: Ter uma mutação genética não significa que você terá câncer com certeza. Significa apenas que seu risco é maior e que você precisará de um acompanhamento diferenciado.

Estratégias de prevenção para quem tem risco aumentado

Se você foi identificada como portadora de uma mutação genética que aumenta o risco de câncer de mama, existem várias estratégias que podem ser adotadas:

1. Monitoramento intensificado

  • Início mais precoce dos exames de rastreamento (geralmente a partir dos 25-30 anos)
  • Mamografia anual, combinada com ultrassonografia
  • Ressonância magnética das mamas (considerado o melhor exame para mulheres jovens e com mutações genéticas)
  • Exame clínico das mamas a cada 6 meses

2. Cirurgias redutoras de risco

  • Mastectomia redutora de risco (remoção das mamas): pode reduzir o risco em mais de 90%
  • Ooforectomia (remoção dos ovários): indicada principalmente para portadoras de mutação BRCA após completarem sua família, pois também reduz o risco de câncer de mama hormônio-dependente

3. Medicamentos preventivos

  • Moduladores seletivos do receptor de estrogênio, como tamoxifeno ou raloxifeno
  • Inibidores da aromatase em casos específicos
  • Estes medicamentos podem reduzir o risco em até 50% em mulheres de alto risco

4. Estilo de vida saudável

  • Manter peso adequado (obesidade aumenta o risco)
  • Atividade física regular (pelo menos 150 minutos por semana)
  • Evitar ou limitar o consumo de álcool
  • Alimentação rica em vegetais, frutas e grãos integrais
  • Amamentação (quando possível)
Fluxograma de estratégias de prevenção para câncer de mama em pacientes com mutações genéticas.

Testes genéticos: o que esperar e como interpretar

Os testes genéticos para câncer de mama hereditário são realizados através da coleta de uma amostra de sangue ou saliva.

Existem diferentes tipos de testes:

  • Teste para mutação específica: quando já se conhece a mutação presente na família
  • Painel multigênico: analisa vários genes simultaneamente
  • Sequenciamento completo: mais abrangente, analisa todos os genes conhecidos relacionados ao câncer hereditário

Os resultados podem ser:

  • Positivo: Uma mutação patogênica foi identificada em um dos genes analisados
  • Negativo: Nenhuma mutação foi encontrada nos genes testados
  • Variante de significado incerto (VUS): Foi encontrada uma alteração genética, mas ainda não se sabe se ela aumenta o risco de câncer

É fundamental que a interpretação dos resultados seja feita por um profissional especializado, que ajudará a definir as próximas etapas com base no seu resultado individual.

A importância do suporte emocional

Descobrir que você tem um risco aumentado para câncer de mama pode gerar ansiedade e preocupação. Por isso, é essencial:

  • Buscar suporte psicológico, se necessário
  • Conversar abertamente com sua família sobre o assunto
  • Participar de grupos de apoio para pessoas com predisposição hereditária

Lembrar que conhecimento é poder – saber sobre seu risco permite tomar medidas preventivas

Mitos e verdades sobre o câncer de mama hereditário

Mito: “Se tenho a mutação, vou desenvolver câncer de qualquer jeito.” Verdade: Embora o risco seja maior, nem todas as pessoas com mutações genéticas desenvolvem câncer. As estratégias preventivas podem reduzir significativamente esse risco.

Mito: “Se não tenho histórico familiar, não preciso me preocupar.” Verdade: A maioria dos cânceres de mama (90-95%) não é hereditária. Por isso, todas as mulheres devem seguir as recomendações gerais de rastreamento, independentemente do histórico familiar.

Mito: “O teste genético é muito caro e inacessível.” Verdade: Embora esses testes ainda tenham um custo considerável, alguns planos de saúde já cobrem o teste em casos de forte história familiar, e existem opções mais acessíveis disponíveis atualmente.

Conclusão

Compreender a diferença entre câncer de mama genético e hereditário é essencial para avaliar corretamente seu risco pessoal e tomar as melhores decisões para sua saúde. O conhecimento sobre predisposição genética não deve gerar medo, mas sim empoderamento – ao saber que tem um risco aumentado, você pode adotar estratégias específicas e eficazes de prevenção.

Lembre-se: mesmo com predisposição genética, existem muitas formas de proteger sua saúde. O rastreamento adequado, as opções preventivas e o estilo de vida saudável fazem toda a diferença.

Converse com seu médico mastologista sobre sua história familiar e, se necessário, considere o aconselhamento genético.

A informação é nossa maior aliada na luta contra o câncer de mama. Quanto mais soubermos, melhores serão nossas escolhas para um futuro saudável!

Tem dúvidas sobre seu risco de desenvolver câncer de mama hereditário? Agende uma consulta e vamos conversar sobre isso!

Escrito por:

Dra. Raquel Aranha

Médica Mastologista Cirurgiã em São Luís/MA.

CRM-MA: 5005 | RQE: 2464

(98) 9.8419-0885

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