O diagnóstico de câncer de mama traz consigo muitas dúvidas e incertezas. Uma das perguntas mais frequentes que recebo no consultório é: “Doutora, quando posso me considerar curada?”. Esta é uma questão que merece atenção especial, principalmente porque existe muita confusão entre os termos “cura” e “remissão” – palavras que, embora pareçam sinônimas, têm significados distintos na oncologia.

Neste artigo, vou explicar por que o período de 5 anos após o tratamento é tão importante, esclarecer a diferença entre estar em remissão e estar curada, e compartilhar orientações valiosas para mulheres que estão nessa jornada pós-tratamento.

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Cura e Remissão no Câncer de Mama: Entendendo a Diferença.

Quando uma paciente finaliza seu tratamento principal para o câncer de mama (seja cirurgia, quimioterapia ou radioterapia), os médicos costumam utilizar o termo “remissão” em vez de “cura”. Isso acontece por uma razão importante: a necessidade de acompanhamento contínuo. Mas afinal, qual é a diferença?

  • Remissão: Significa que os sinais detectáveis da doença desapareceram após o tratamento. Pode ser:
    • Remissão completa: quando não há mais evidências da doença nos exames de imagem e laboratoriais
    • Remissão parcial: quando o tumor reduz significativamente, mas ainda há vestígios detectáveis
  • Cura: Na oncologia, consideramos uma paciente “curada” quando o risco de recidiva (retorno do câncer) se torna tão baixo quanto o de uma pessoa que nunca teve a doença. Este marco geralmente é alcançado após 5 a 10 anos sem sinais de câncer.

É importante entender que estar em remissão não significa necessariamente que todas as células cancerígenas foram eliminadas do corpo. Algumas podem permanecer em quantidades tão pequenas que não são detectáveis pelos exames atuais – é o que chamamos de “doença residual mínima”.

Paciente conversando com oncologista para entender a diferença entre cura e remissão do câncer de mama.

Por Que o Período de 5 Anos é Tão Significativo?

Na oncologia, utilizamos o período de 5 anos como um importante marco para avaliar o prognóstico e as chances de recidiva. Isso porque a maioria das recorrências do câncer de mama acontece dentro deste intervalo.

Quando uma paciente permanece livre da doença durante esses primeiros 5 anos após o tratamento, suas chances de recidiva diminuem consideravelmente. Este período funciona como um “divisor de águas” na jornada de recuperação.

No entanto, é fundamental entender que cada subtipo de câncer de mama tem um comportamento diferente:

  • Câncer de mama triplo-negativo: Apresenta maior risco de recidiva nos primeiros 3 anos após o tratamento. Se não houver retorno nesse período, as chances de cura são significativamente maiores.
  • Câncer de mama luminal (hormônio-dependente): Pode apresentar recidivas mais tardias, inclusive 10 ou 15 anos após o tratamento inicial. Por isso, muitas pacientes com este subtipo continuam em tratamento com hormonioterapia por períodos prolongados.
Paciente verificando agenda médica para exames de acompanhamento após tratamento do câncer de mama.

Como é Monitorada a Remissão?

O acompanhamento médico após o tratamento do câncer de mama é essencial para identificar qualquer sinal de recorrência o mais precocemente possível. Este monitoramento inclui:

  1. Consultas médicas regulares: Nos primeiros anos, as consultas costumam ser mais frequentes (a cada 3-6 meses) e, com o passar do tempo, podem ser espaçadas para intervalos anuais.
  2. Exames de imagem periódicos: Mamografia, ultrassonografia, e em alguns casos, ressonância magnética das mamas são realizados para verificar se há sinais de retorno da doença.
  3. Exames laboratoriais: Dependendo do caso, podem ser solicitados exames de sangue para avaliar a saúde geral e, em algumas situações específicas, marcadores tumorais.
  4. Avaliação de sintomas: Qualquer novo sintoma deve ser prontamente relatado ao médico, como dores persistentes, nódulos, alterações na pele da mama ou secreções pelo mamilo.

É importante ressaltar que a frequência e o tipo de acompanhamento variam de acordo com o estágio inicial da doença, o subtipo de câncer, os tratamentos realizados e as características individuais de cada paciente.

Fatores que Influenciam o Prognóstico e as Chances de Cura

Diversos fatores podem impactar as chances de remissão completa e, eventualmente, a cura do câncer de mama:

  • Estágio da doença ao diagnóstico: Quanto mais precoce for o diagnóstico, melhores são as chances de cura
  • Subtipo molecular do tumor: Alguns subtipos têm comportamento mais agressivo que outros
  • Idade e condição geral de saúde: Pacientes mais jovens e com boa saúde geral geralmente respondem melhor aos tratamentos
  • Resposta aos tratamentos iniciais: A forma como o tumor responde às primeiras linhas de tratamento é um importante indicador de prognóstico
  • Presença de mutações genéticas: Alterações em genes como BRCA1 e BRCA2 podem influenciar o risco de recidiva
  • Estilo de vida: Alimentação saudável, atividade física regular e controle do peso são fatores que podem influenciar positivamente o prognóstico
Mulher se exercitando para manter a saúde e prevenir o câncer de mama após o tratamento.

Como Lidar com o Medo da Recidiva

É perfeitamente normal que mulheres que passaram pelo tratamento do câncer de mama sintam medo de que a doença possa voltar. Esse sentimento, conhecido como “síndrome de Dâmocles” (sensação de ter uma espada pendurada sobre a cabeça), afeta muitas sobreviventes e pode se intensificar próximo às datas de realização de exames ou consultas de acompanhamento.

Para lidar com esse medo de forma saudável, recomendo:

  • Manter diálogo aberto com sua equipe médica: Compartilhe suas preocupações e dúvidas durante as consultas
  • Buscar apoio psicológico especializado: Psicólogos e psiquiatras com experiência em psico-oncologia podem oferecer ferramentas valiosas para lidar com a ansiedade
  • Participar de grupos de apoio: Compartilhar experiências com outras mulheres que vivenciam situações semelhantes pode ser reconfortante
  • Praticar técnicas de redução de estresse: Meditação, yoga e outras práticas de mindfulness podem ajudar a acalmar pensamentos ansiosos
  • Focar no presente: Viver um dia de cada vez, concentrando-se nas pequenas alegrias e conquistas diárias

A Vida Após os 5 Anos: O Que Esperar?

Alcançar o marco de 5 anos sem evidência de doença é uma conquista significativa, mas não significa que o acompanhamento médico deve ser interrompido. É importante continuar com:

  • Mamografias anuais: Mesmo após os 5 anos, o rastreamento mamográfico regular continua sendo essencial
  • Consultas médicas periódicas: Embora possam ser mais espaçadas, as consultas com o mastologista e o oncologista devem ser mantidas
  • Hábitos saudáveis: Manter uma rotina de exercícios, alimentação equilibrada e controle do peso
  • Atenção aos sinais do corpo: Continuar vigilante quanto a qualquer alteração nas mamas ou sintomas incomuns

Para muitas mulheres, esse período também marca uma nova fase de vida, onde o câncer deixa de ser o centro das preocupações e novos projetos e sonhos podem florescer.

Laço rosa simbolizando a conscientização e prevenção do câncer de mama.

Para Além da Medicina: O Poder da Resiliência

Em meus anos de prática clínica, tenho testemunhado histórias inspiradoras de pacientes que, após vencerem o câncer de mama, redescobrira m forças que nem imaginavam ter. Muitas relatam que a experiência da doença, apesar de difícil, trouxe consigo aprendizados valiosos sobre valorização da vida, fortalecimento de laços afetivos e redescoberta de paixões.

Esta fase pós-tratamento pode representar uma oportunidade para:

  • Redescobrir paixões e hobbies que trazem alegria
  • Fortalecer relacionamentos familiares e amizades
  • Compartilhar sua experiência para ajudar outras mulheres
  • Adotar um estilo de vida mais consciente e saudável
  • Celebrar cada conquista, por menor que pareça

Conclusão: Uma Nova Jornada se Inicia

O diagnóstico de câncer de mama representa um desafio imenso, mas o fim do tratamento marca o início de uma nova jornada. Compreender a diferença entre remissão e cura, e a importância do marco dos 5 anos, ajuda a paciente a navegar por esse período com mais clareza e menos ansiedade.

Se você passou por essa experiência, lembre-se: cada dia vivido com saúde é uma vitória a ser celebrada. Continue com seu acompanhamento médico regular, mantenha hábitos saudáveis e permita-se olhar para o futuro com esperança e otimismo.

A medicina avança constantemente, com tratamentos cada vez mais eficazes e personalizados. Embora o caminho possa ser desafiador, você não está sozinha nessa jornada. Conte sempre com sua equipe médica, seus entes queridos e, se necessário, com grupos de apoio especializados.

Valorize cada momento da sua vida, comemore suas conquistas e lembre-se: conhecimento e prevenção são suas maiores aliadas nessa nova fase!

Escrito por:

Dra. Raquel Aranha

Médica Mastologista Cirurgiã em São Luís/MA.

CRM-MA: 5005 | RQE: 2464

(98) 9.8419-0885

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