A cirurgia oncológica da mama, como a mastectomia ou a cirurgia conservadora, é uma etapa importante no tratamento do câncer de mama. Embora seja um procedimento seguro e amplamente realizado, é essencial estar atenta aos cuidados pós-operatórios para prevenir complicações como o linfedema.

E sempre surge uma dúvida muito comum: “Posso medir a pressão ou tirar sangue no braço do lado da cirurgia?” Na maioria dos casos, a recomendação é evitar, e aqui vou explicar por quê.

Entenda a relação entre tratamentos oncológicos e linfedema

O linfedema é um inchaço causado pelo acúmulo de linfa, um líquido que circula pelo sistema linfático, composto pelos vasos linfáticos e linfonodos. Esse sistema tem a função essencial de drenar impurezas e transportar células de defesa, ajudando a proteger o organismo contra infecções.

Após cirurgias oncológicas da mama que envolvem a remoção de linfonodos axilares ou a realização de radioterapia, o sistema linfático pode ser comprometido, dificultando o fluxo normal da linfa. Essa dificuldade no transporte pode levar ao acúmulo de líquido no braço ou na mão do lado operado, provocando sintomas como inchaço, sensação de peso, dor ou desconforto, e aumentando o risco de infecções locais.

Embora o linfedema não seja uma condição que acomete todas as pacientes, o risco de desenvolvê-lo aumenta de acordo com o número de linfonodos removidos ou danificados durante o tratamento. Por isso, é importante entender a importância do sistema linfático e como ele pode ser afetado por esses procedimentos.

Quando há alterações nesse sistema, o equilíbrio no transporte da linfa é perdido, favorecendo o surgimento do linfedema. Essa condição, além de impactar o bem-estar da paciente, pode gerar complicações como infecções recorrentes, destacando a necessidade de medidas preventivas e de acompanhamento adequado.

Por que medir a pressão ou tirar sangue aumenta o risco?

Medir a pressão ou tirar sangue no braço do lado operado pode parecer inofensivo, mas essas ações representam um risco aumentado de desenvolver ou agravar o linfedema em pessoas que passaram por cirurgia ou radioterapia na região da mama e axila.

A medição da pressão arterial envolve a compressão do braço pelo manguito do aparelho, o que pode comprometer ainda mais o sistema linfático já fragilizado. Essa compressão temporária pode dificultar o fluxo da linfa, provocando retenção de líquido e aumentando o risco de inchaço no braço. Além disso, a pressão contínua pode causar microlesões nos vasos linfáticos, agravando o risco de linfedema.

Já a coleta de sangue ou aplicação de injeções exige a perfuração da pele. Essa abertura cria uma porta de entrada para bactérias, aumentando o risco de infecção. Uma infecção no braço pode levar a um processo inflamatório, sobrecarregando ainda mais o sistema linfático e favorecendo o surgimento ou a piora do linfedema.

É uma proibição absoluta?

Não. Essa recomendação não é uma proibição rígida, mas sim uma medida de precaução. Se for absolutamente necessário realizar algum procedimento no braço afetado, ele pode ser feito com cuidado. O importante é minimizar os riscos sempre que houver uma alternativa viável.

Outras atitudes que podem aumentar o risco de linfedema

Além de medir a pressão ou tirar sangue, há outras situações que podem sobrecarregar o sistema linfático e contribuir para o desenvolvimento ou agravamento do linfedema. Vamos entender quais são e como evitá-las:

  1. Carregar peso no braço operado
    Levantar objetos pesados ou carregar bolsas, sacolas e mochilas pode exigir um esforço maior do braço e dos músculos, comprimindo os vasos linfáticos e dificultando o transporte da linfa. Esse esforço extra pode levar ao inchaço e aumentar o risco de lesão nos vasos linfáticos.

Como evitar: Use de preferência o braço oposto para carregar muito peso.

  1. Realizar movimentos repetitivos
    Movimentos contínuos e repetitivos, como varrer, passar roupa ou digitar por longos períodos, podem sobrecarregar os músculos do braço afetado, causando inflamação e dificultando o fluxo da linfa.

Como evitar: Intercale períodos de descanso e evite atividades repetitivas por tempo prolongado.

  1. Expor o braço a temperaturas extremas
    Banhos muito quentes, saunas ou o uso de bolsas térmicas no braço operado podem causar dilatação dos vasos sanguíneos e linfáticos, aumentando o risco de acúmulo de líquido.

Como evitar: Prefira banhos mornos e evite a exposição do braço a fontes de calor intenso ou gelo diretamente sobre a pele.

  1. Sofrer cortes, arranhões ou picadas de insetos
    Lesões na pele, por menores que sejam, criam oportunidades para a entrada de bactérias, aumentando o risco de infecções e inflamação no braço afetado. Esses processos inflamatórios podem agravar o linfedema ou desencadeá-lo.

Como evitar: Use luvas ao realizar tarefas que possam machucar as mãos, como jardinagem ou trabalhos domésticos, e aplique repelentes para evitar picadas de insetos.

  1. Usar roupas ou acessórios apertados
    Roupas, pulseiras ou relógios muito justos podem comprimir os vasos linfáticos, dificultando o fluxo da linfa e contribuindo para o inchaço no braço.

Como evitar: Opte por roupas confortáveis e acessórios que não apertem o braço ou o punho.

  1. Fumar ou consumir álcool em excesso
    O tabagismo e o consumo excessivo de álcool podem prejudicar a circulação e o sistema linfático, aumentando o risco de inflamações e piorando o quadro de linfedema.

Como evitar: Adote hábitos saudáveis, evitando o cigarro e consumindo álcool com moderação.

  1. Falta de hidratação e cuidados com a pele
    A pele ressecada é mais suscetível a rachaduras e lesões, aumentando o risco de infecção. Além disso, a falta de hidratação pode comprometer o funcionamento do sistema linfático.

Como evitar: Hidrate a pele diariamente com cremes específicos e beba bastante água para manter o organismo saudável.

Dicas para Cuidar do Braço Após a Cirurgia

O cuidado com o braço do lado operado é fundamental para prevenir complicações, como infecções e linfedema. Pequenas mudanças no dia a dia podem fazer uma grande diferença na sua recuperação e qualidade de vida. Veja algumas orientações importantes:

  1. Informe a equipe de saúde:

    Sempre avise médicos, enfermeiros e técnicos sobre a cirurgia de mama que você realizou. Isso garante que eles evitem o braço do lado afetado para medir pressão, realizar punções ou outros procedimentos que possam aumentar o risco de linfedema.

  2. Evite medir a pressão arterial ou tirar sangue no braço operado:

    Sempre que precisar realizar esses procedimentos, peça para que priorizem o braço oposto. Se ambos os lados foram operados, siga as orientações específicas do seu médico.

  3. Proteja a pele do braço afetado:

    Use luvas ao realizar atividades que possam causar cortes ou arranhões, como jardinagem, e mantenha a pele bem hidratada para evitar ressecamentos e rachaduras.

  4. Evite carregar muito peso no braço operado:

    Objetos muito pesados, como bolsas, mochilas ou sacolas, podem sobrecarregar o sistema linfático. Sempre que possível, utilize o braço oposto para essas tarefas.

  5. Evite movimentos repetitivos:

    Fazer movimentos repetitivos por longos períodos podem causar inflamação ou agravar o inchaço. Dê pausas frequentes durante essas atividades.

  6. Fique atenta à temperatura:

    Não exponha o braço operado a temperaturas extremas, como banhos muito quentes, saunas ou gelo direto na pele. Essas situações podem agravar a retenção de líquidos no braço.

  7. Prefira roupas e acessórios confortáveis:

    Evite roupas apertadas, elásticos ou acessórios que comprimam o braço ou o punho. Eles podem dificultar o fluxo da linfa.

  8. Adote hábitos saudáveis:

    Mantenha uma dieta equilibrada, hidrate-se bem e evite fumar ou consumir álcool em excesso. Esses hábitos ajudam a preservar a saúde do sistema linfático.

  9. Pratique atividades físicas:

    Exercícios orientados podem ser benéficos para estimular a circulação e fortalecer os músculos sem sobrecarregar o braço.

  10. Converse com o seu médico:

    Cada caso é único, e o seu mastologista pode adaptar as orientações de acordo com as suas necessidades específicas, o tipo de cirurgia realizada e o tratamento complementar. Não hesite em esclarecer dúvidas ou relatar qualquer desconforto.

  11. Monitore sinais de infecção ou inchaço:

    Vermelhidão, calor, aumento do inchaço ou dor no braço são sinais de alerta. Informe seu médico imediatamente se notar alguma dessas alterações.

Seguindo essas dicas e mantendo o acompanhamento regular com o médico e o fisioterapeuta, você pode reduzir os riscos de complicações e garantir uma recuperação mais tranquila e segura.

E se o linfedema surgir? Como é o tratamento?

O linfedema, apesar de não ter cura, pode ser manejado para reduzir os sintomas, melhorar a qualidade de vida e prevenir complicações. Aqui estão as principais opções:

  1. Drenagem Linfática Manual (DLM):

    Uma técnica realizada por fisioterapeutas especializados que ajuda a estimular a circulação da linfa e reduzir o inchaço.

  2. Uso de manga de compressão:

    As mangas compressivas auxiliam no controle do edema, promovendo uma pressão uniforme que facilita o retorno da linfa. Devem ser utilizadas sob orientação médica.

  3. Exercícios específicos:

    Movimentos leves e controlados, orientados por um profissional, ajudam a melhorar a circulação e a funcionalidade do braço.

  4. Cuidados com a pele:

    Manter a pele hidratada e protegida é essencial para evitar infecções que possam agravar o quadro.

  5. Terapia compressiva com bandagens:

    Em alguns casos, podem ser indicadas bandagens compressivas para conter o inchaço de forma mais intensa.

  6. Terapia combinada ou descongestiva:

    Uma abordagem multidisciplinar que combina drenagem linfática, uso de compressão, exercícios e cuidados específicos para a pele.

  7. Acompanhamento regular:

    Consultas regulares com mastologista, fisioterapeuta e, se necessário, dermatologista são fundamentais para monitorar o linfedema e ajustar o tratamento conforme necessário.

Conclusão

Pequenos cuidados fazem uma grande diferença na prevenção do linfedema e de complicações pós-cirúrgicas. Caso o linfedema apareça, o tratamento precoce é fundamental para controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.

Seguindo essas orientações simples, você pode proteger sua saúde e garantir uma recuperação mais tranquila. Se você conhece alguém que passou por uma cirurgia de mama e pode se beneficiar dessas informações, compartilhe este artigo! Quanto mais mulheres souberem sobre esses cuidados, menores serão os riscos de complicações.