Como Tratar o Câncer de Mama: Cirurgia, Quimioterapia e Mais

Omomento do diagnóstico de câncer de mama é desafiador e cheio de incertezas. Muitas mulheres se perguntam: “Como será o tratamento? Quais são as chances de cura? O que esperar pela frente?” É natural sentir-se assim. Mas quero que você saiba, desde já, que você não está sozinha nessa jornada e que a medicina avançou muito, oferecendo tratamentos cada vez mais eficazes e individualizados. Entender as opções disponíveis é um passo fundamental para trilhar esse caminho com mais confiança, conhecimento e esperança.

Este artigo foi preparado com carinho para explicar, de forma clara e acessível, os principais tratamentos para o câncer de mama. Meu objetivo como mastologista é desmistificar esse tema, oferecendo informações seguras para que você se sinta mais preparada e empoderada para conversar com sua equipe médica e tomar as melhores decisões para a sua saúde. Lembre-se: a informação é uma ferramenta poderosa!

A Importância de um Tratamento Personalizado

Não existe uma receita única para tratar o câncer de mama. Cada mulher, cada corpo e cada tumor têm suas particularidades. Por isso, o plano de tratamento é sempre individualizado, cuidadosamente elaborado com base em diversos fatores:

• Estágio da Doença: Avalia o tamanho do tumor, se ele atingiu os linfonodos (gânglios) próximos ou se espalhou para outras partes do corpo (metástase).

• Subtipo do Câncer: Existem diferentes tipos biológicos de câncer de mama, como Luminal A, Luminal B, HER2-positivo e Triplo-negativo. Cada um responde de maneira diferente aos tratamentos.

• Características genéticas: incluindo mutações como BRCA1 e BRCA2

• Saúde Geral da Paciente: Idade, condições médicas preexistentes e o estado geral de saúde influenciam as opções e a tolerância aos tratamentos.

• Preferências da Paciente: Sempre que possível, suas vontades e prioridades são consideradas na elaboração do plano terapêutico.

Essa abordagem personalizada garante que você receba o tratamento mais eficaz para o seu caso específico, buscando sempre o melhor resultado com o menor impacto possível na sua qualidade de vida.

As Principais Modalidades de Tratamento

O tratamento moderno do câncer de mama geralmente envolve uma combinação de três abordagens principais, conhecida como tríade terapêutica. Cada uma desempenha um papel fundamental no combate ao câncer: tratamento cirúrgicoterapias sistêmicas e a radioterapia.

Vamos entender melhor cada uma delas:

1 – Tratamentos Locais: Focando na Mama e Axila

O objetivo principal dos tratamentos locais é remover ou destruir o câncer na mama e nos linfonodos próximos, evitando que ele retorne nessa região.

1.1 – Cirurgia: O Passo Essencial

cirurgia é, na maioria dos casos, a base do tratamento curativo do câncer de mama. O objetivo é remover completamente o tumor.

Existem dois tipos principais:

  • Cirurgia Conservadora (Quadrantectomia): Remove apenas o tumor e uma pequena margem de tecido mamário saudável ao redor, preservando a maior parte da mama. É uma excelente opção para tumores menores localizados. Quase sempre é seguida de radioterapia para complementar o tratamento local.
  • Mastectomia: Consiste na remoção completa da mama. Pode ser necessária em casos de tumores maioresmúltiplos focos na mesma mama, ou quando a cirurgia conservadora não é viável ou desejada pela paciente. Existem diferentes técnicas (simples, poupadora de pele, poupadora de mamilo) que podem permitir uma reconstrução mamária mais estética.
  • Abordagem dos Linfonodos Axilares: Durante a cirurgia, também é comum avaliar os linfonodos (gânglios) da axila para verificar se o câncer se espalhou. A técnica mais comum hoje é a biópsia do linfonodo sentinela (o primeiro a receber a drenagem da mama), que evita a remoção desnecessária de múltiplos linfonodos (esvaziamento axilar) e suas possíveis complicações, como o linfedema (inchaço do braço).
  • Reconstrução Mamária: Para muitas mulheres, a reconstrução da mama após a mastectomia (ou mesmo após a cirurgia conservadora) é uma parte importante do processo de recuperação física e emocional. Ela pode ser realizada no mesmo tempo cirúrgico da retirada do tumor (reconstrução imediata) ou posteriormente (reconstrução tardia), utilizando próteses de silicone ou tecidos do próprio corpo. Converse abertamente com sua equipe sobre as opções e o que é melhor para você.
Opções cirúrgicas para câncer de mama: cirurgia conservadora, mastectomia e reconstrução mamária.

 

1.2 – Radioterapia: Proteção Adicional Pós-Cirurgia

radioterapia utiliza feixes de radiação de alta energia para destruir eventuais células cancerígenas que possam ter permanecido na mama ou nos linfonodos após a cirurgia, reduzindo significativamente o risco de o câncer voltar localmente (recidiva).

 

Paciente posicionada em máquina de radioterapia para tratamento de câncer.

 

É indicada principalmente:

  • Após a cirurgia conservadora (para tratar o restante da mama).
  • Após a mastectomia, em casos de tumores maioresmargens cirúrgicas comprometidas ou linfonodos axilares positivos. O tratamento é cuidadosamente planejado por um radio-oncologista para focar a radiação na área necessária, protegendo ao máximo os tecidos saudáveis ao redor. As sessões são geralmente diárias, por algumas semanas.

 

Critérios para radioterapia pós-cirúrgica em câncer de mama.

 

2 – Terapias Sistêmicas: Combatendo o Câncer no Corpo Inteiro

As terapias sistêmicas utilizam medicamentos que circulam pela corrente sanguínea para alcançar e destruir células cancerígenas em qualquer parte do corpo, mesmo aquelas que não são detectáveis por exames. Elas são fundamentais para reduzir o risco de metástases.

 

Função das terapias sistêmicas: circulação sanguínea, destruição de células cancerígenas e prevenção de metástases.

 

2.1 – Quimioterapia:

Utiliza medicamentos (quimioterápicos) que atacam e destroem células de crescimento rápido, como as células cancerígenas. Pode ser administrada:

  • Neoadjuvante (antes da cirurgia): Para reduzir o tamanho do tumor, facilitando a cirurgia (especialmente a conservadora) e permitindo avaliar a resposta do tumor aos medicamentos.
  • Adjuvante (após a cirurgia): Para eliminar células cancerígenas residuais que possam ter se espalhado, diminuindo o risco de recidiva.
  • Para doença metastática: Para controlar o câncer que se espalhou para outros órgãos. Os esquemas (combinações de drogas e ciclos) são personalizados. Sabemos que os efeitos colaterais (como queda de cabelo, náuseas, cansaço) são uma preocupação, mas hoje existem muitas formas de manejá-los e torná-los mais toleráveis. Converse com sua equipe sobre isso.

 

Enfermeira ajustando soro de quimioterapia em paciente com câncer de mama.

 

2.2 – Hormonioterapia:

É um tratamento direcionado para os tipos de câncer de mama que possuem receptores para os hormônios femininos estrogênio e/ou progesterona (chamados RH-positivos). Esses tumores usam os hormônios para crescer. A hormonioterapia bloqueia a ação desses hormônios ou reduz sua produção no corpo.

Este tratamento é geralmente tomado em forma de comprimidos, por um período de 5 a 10 anos, e é muito eficaz na prevenção de recidivas em tumores RH-positivos.

Os principais tipos são:

  • Tamoxifeno: Usado em mulheres na pré e pós-menopausa.
  • Inibidores da Aromatase (Anastrozol, Letrozol, Exemestano): Geralmente indicados para mulheres na pós-menopausa.

 

Mulher administrando comprimidos de hormonioterapia em ambiente doméstico.

 

2.3 – Terapia-Alvo:

São medicamentos “inteligentes” que atacam características específicas das células cancerígenas, causando menos danos às células normais. Um exemplo importante é a terapia anti-HER2, para tumores que produzem em excesso a proteína HER2 (HER2-positivos). Medicamentos como o Trastuzumabe e o Pertuzumabe bloqueiam essa proteína, impedindo o crescimento do tumor. Geralmente são usados em combinação com a quimioterapia. Existem outras terapias-alvo para diferentes mutações ou características do tumor.

 

Paciente recebendo infusão de terapia-alvo enquanto utiliza o celular.

 

2.4 – Imunoterapia:

É uma abordagem mais recente e promissora que “ensina” o próprio sistema imunológico da paciente a reconhecer e atacar as células do câncer. Tem mostrado bons resultados em alguns subtipos, como o câncer de mama triplo-negativo, especialmente em fases mais avançadas ou metastáticas.

 

Conceito de imunoterapia como "treinamento" do sistema imunológico.

Tem mostrado bons resultados em alguns subtipos, como o câncer de mama triplo-negativo, especialmente em fases mais avançadas ou metastáticas.

Aqui um esquema resumido das terapias sistêmicas utilizadas contra o câncer de mama:

 

Tipos de terapias sistêmicas: quimioterapia, hormonioterapia, imunoterapia e terapia-alvo.

 

Tratamento de Acordo com o Estágio do Câncer

O estágio da doença é um guia importante para definir a intensidade e a combinação dos tratamentos:

• Estágio 0 (Carcinoma in situ): Câncer não invasivo, restrito aos ductos ou lóbulos. Geralmente tratado com cirurgia (conservadora ou mastectomia) e, às vezes, radioterapia e/ou hormonioterapia (se for ductal in situ RH-positivo).

• Estágios I e II (Iniciais): Câncer invasivo, mas ainda localizado na mama ou com pequeno acometimento dos linfonodos. O tratamento geralmente envolve cirurgiaradioterapia (principalmente após cirurgia conservadora) e, frequentemente, terapias sistêmicas dependendo das características do tumor.

• Estágio III (Localmente Avançado): Tumor maior ou que invadiu mais extensamente os linfonodos ou a pele/parede torácica, mas sem metástases à distância. O tratamento costuma ser mais intensivo, frequentemente começando com quimioterapia neoadjuvante, seguida de cirurgia radioterapia, além de outras terapias sistêmicas conforme o caso.

• Estágio IV (Metastático): O câncer se espalhou para outras partes do corpo (ossos, fígado, pulmões, cérebro). O foco principal do tratamento é controlar a doença, aliviar sintomas e prolongar a qualidade de vida, utilizando principalmente terapias sistêmicas (hormonioterapia, quimioterapia, terapia-alvo, imunoterapia). Cirurgia e radioterapia podem ser usadas em situações específicas para controle de sintomas.

Entendendo a Sequência: Neoadjuvante, Cirurgia e Adjuvante

Agora que conhecemos as principais ferramentas que temos para combater o câncer de mama – cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia, terapia-alvo e imunoterapia – é importante entender como elas são organizadas no seu plano de tratamento. A ordem e a combinação dessas terapias não são aleatórias; elas são cuidadosamente planejadas pela equipe médica, sempre pensando no seu caso específico, para maximizar as chances de sucesso e minimizar os riscos.

Basicamente, podemos pensar em três momentos principais em relação à cirurgia, que costuma ser um ponto central no tratamento curativo:

1 – Tratamento Neoadjuvante:

  • O que é? É qualquer tratamento realizado antes da cirurgia principal. Mais frequentemente, utiliza-se a quimioterapia, mas também pode incluir hormonioterapia ou terapia-alvo, dependendo do tipo de tumor.
  • Por que fazer? Existem ótimos motivos! O principal é tentar reduzir o tamanho do tumor. Isso pode tornar uma cirurgia que inicialmente seria uma mastectomia em uma cirurgia conservadora (preservando a mama), ou simplesmente facilitar o procedimento cirúrgico. Além disso, o tratamento neoadjuvante nos permite ver, na prática, como o tumor responde àquela medicação específica, o que pode ajudar a guiar as próximas etapas do tratamento após a cirurgia. É uma estratégia muito usada em tumores maiores ou em certos subtipos biológicos (como HER2-positivo ou Triplo-negativo).

 

Etapas e objetivos do tratamento neoadjuvante em câncer de mama.

 

2 – Cirurgia:

  • O que é? Como já detalhamos, é o procedimento para remover o tumor da mama e avaliar os linfonodos da axila.
  • Quando ocorre? Pode ser o primeiro passo do tratamento em tumores iniciais ou ocorrer após o tratamento neoadjuvante. Sua posição na sequência depende da estratégia definida para o seu caso.

3 – Tratamento Adjuvante:

  • O que é? É qualquer tratamento realizado após a cirurgia principal. Pode incluir radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia, terapia-alvo ou uma combinação delas.
  • Por que fazer? Mesmo que a cirurgia tenha removido todo o câncer visível, podem existir células cancerígenas microscópicas que ficaram para trás na mama, nos linfonodos ou que já tenham se espalhado pelo corpo sem serem detectadas. O tratamento adjuvante age como uma “limpeza” adicional, buscando eliminar essas células “invisíveis” para diminuir significativamente o risco de o câncer voltar (recidiva), seja no local original ou em outras partes do corpo (metástases).

A decisão sobre qual sequência seguir (começar pela cirurgia ou por um tratamento neoadjuvante, e quais terapias adjuvantes serão necessárias) é complexa e baseada em todas aquelas características que mencionamos: estágio, tipo de tumor, biologia, saúde geral e suas preferências. É uma decisão tomada em conjunto com sua equipe médica, sempre visando o melhor resultado possível para você.

Cuidando de Você Durante o Tratamento: Abordagem Integral

O tratamento do câncer de mama vai além dos procedimentos médicos. Cuidar do seu bem-estar físico e emocional é fundamental durante essa fase. Lembre-se de:

  • Nutrição e Hidratação: Mantenha uma dieta equilibrada e beba bastante água. Um nutricionista pode ajudar a adaptar sua alimentação às necessidades do tratamento.
  • Atividade Física: Exercícios leves a moderados, conforme orientação médica, podem ajudar a combater o cansaço, melhorar o humor e a disposição.
  • Saúde Mental e Apoio Psicológico: Não hesite em buscar apoio psicológico (terapia) ou participar de grupos de apoio. Conversar sobre seus sentimentos é muito importante.
  • Manejo de Efeitos Colaterais: Comunique qualquer sintoma ou efeito colateral à sua equipe médica. Existem muitas formas de aliviar desconfortos.
  • Rede de Apoio: Apoie-se em familiares, amigos e em sua equipe de saúde. Permitir que cuidem de você faz parte do processo.

 

Ciclo de apoio multidisciplinar para pacientes com câncer de mama: nutrição, atividade física e saúde mental.

 

Conclusão: Um Caminho de Esperança e Cuidado

O tratamento do câncer de mama evoluiu tremendamente nas últimas décadas. Hoje, contamos com terapias cada vez mais eficazes e personalizadas, que consideram as características individuais de cada tumor e cada paciente. Os avanços na medicina permitem não apenas taxas de cura crescentes, mas também uma maior preservação da qualidade de vida.

Se você ou alguém próximo está enfrentando um diagnóstico de câncer de mama, lembre-se: você não está sozinha. Conecte-se com sua equipe médica, faça perguntas, busque apoio e informação confiável. Cada jornada é única, e cada passo dado no tratamento é uma vitória a ser celebrada. Cuide-se com carinho e informação!

 

Laço rosa em campo florido ao pôr do sol: esperança na luta contra o câncer de mama.

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